sexta-feira, 24 de maio de 2013

As relações entre trabalho infantil e trabalho escravo


Entre 1995 e 2011, mais de 43 mil pessoas foram libertas de condições de trabalho análogas à escravidão no Brasil. De acordo com a pesquisa Perfil dos Principais Atores Envolvidos no Trabalho Escravo Rural no Brasil, produzida pela Organização Internacional do Trabalho – OIT, “a escravidão contemporânea no país é precedida pelo trabalho infantil”.
Realizada entre 2006 e 2007, a pesquisa, baseada em entrevistas qualitativas, ouviu 121 trabalhadores em 10 fazendas dos Estados do Pará, do Mato Grosso, da Bahia e de Goiás. “Praticamente todos os entrevistados na pesquisa de campo (92,6%) iniciaram sua vida profissional antes dos 16 anos. A idade média em que começaram a trabalhar é de 11,4 anos, sendo que aproximadamente 40% iniciaram antes desta idade”, revela o texto divulgado pela OIT. Em 69% dos casos, o trabalho infantil era realizado em âmbito familiar. Dos que já trabalhavam para um empregador, 10% o fazia junto com a família, enquanto 20% trabalhava diretamente para um patrão. Entre os que começaram a trabalhar com menos de 11 anos, 17% eram empregados fora de casa.
Além dos trabalhadores, a pesquisa também entrevistou os chamados “gatos”, aliciadores que atuam em comunidades vulneráveis. “Com exceção de um caso, os gatos entrevistados, da mesma forma que a maioria dos trabalhadores resgatados, foram vítimas do trabalho infantil. Apenas um deles começou a trabalhar aos 16 anos”, revela a pesquisa.
Para Natália Suzuki, coordenadora do Escravo, Nem Pensar!, projeto da Repórter Brasil, a relação entre trabalho infantil e trabalho escravo tem como pano de fundo, em primeiro lugar, a vulnerabilidade socioeconômica das crianças e adolescentes e de suas famílias. “A questão socioeconômica é preponderante para que esse tipo de situação acabe se formando. A família não tem condições de dar segurança econômica e social para a criança, que acaba também indo para a frente de trabalho”, disse.
Além disso, Natália aponta uma relação de “naturalização da exploração”, que leva a pessoa submetida ao trabalho infantil a tornar-se mais vulnerável à situação de trabalho escravo contemporâneo. “A pessoa vai crescendo sempre envolvida em uma situação de trabalho em que há uma relação de exploração. As experiências de vida desse trabalhador, desde muito cedo, são em torno dessa exploração. Então, a pessoa vai – e o termo é justamente esse – se acostumando com essa condição. Você ouve muitos relatos dos trabalhadores como ‘eu trabalho desde os meus onze anos no corte de cana’, ‘eu trabalho desde os meus onze anos em carvoaria’. A pessoa cresce e as experiências de exploração vão acompanhando o desenvolvimento dela. Ela naturaliza essa situação de exploração. E, assim, ela aceita desde ganhar pouco até não ganhar nada e não gozar de direitos”, explicou.
Outro fator de vulnerabilidade ao trabalho infantil e ao trabalho escravo é a educação e o acesso à informação. “A escola, a comunidade escolar, também tem um papel muito importante na difusão de direitos. Sem a educação formal ou mesmo informal, a pessoa tem tolhida a percepção de que tem direitos, de que não pode ser explorada, de que ela tem a lei do lado dela enquanto trabalhadora”, disse Natália. Segundo ela, a educação tem o papel de formar tecnicamente o trabalhador – e, principalmente, de formá-lo a partir de uma perspectiva de cidadania –, de difundir informações sobre direitos e de fazer com que as pessoas saiam da condição de naturalização da exploração.
De acordo com Natália, por esse motivo a atuação do Escravo, Nem Pensar! é voltada para a prevenção do trabalho escravo por meio da educação, com ações para educadores da rede pública, tanto estadual como municipal, e para lideranças comunitárias. “Isso porque tanto as lideranças quanto os educadores têm um potencial multiplicador muito grande. Se um professor tem uma classe de 50 alunos, esses 50 alunos, por sua vez, vão ser também multiplicadores, vão levar informações para os pais, para as famílias, para os vizinhos”, explicou.
Ela conta o caso de uma aluna que atuou como multiplicadora. “A aluna teve contato com uma professora que participou das nossas formações e falou: ‘nossa professora, mas meu pai está indo trabalhar em outro Estado, pode ser um caso de trabalho escravo?’ O pai foi até a escola falar com a professora, contou que a filha o havia alertado, mas que o trabalho estava todo correto. Ele havia perguntado sobre o lugar e a carteira de trabalho estava ok. Isso foi um caso em que o familiar estava bem informado, mas poderia não ser, e a aluna teria evitado que o pai tivesse caído em uma situação de aliciamento”, contou Natália.
As ações do Escravo, Nem Pensar! pretendem fazer com que as informações e o conhecimento dos direitos possam levar à desnaturalização de uma situação existente há muitas décadas ou mesmo séculos. “A ideia é que o tema caia na boca do povo, deixe de ser um tabu e que a própria comunidade possa, de forma autônoma, se mobilizar e se colocar contra isso. Uma comunidade informada, que conhece seus direitos, que sabe que tipo de trabalho pode realizar, conhece os direitos que ela deve e pode gozar. Essa é uma comunidade que não aceita facilmente esse tipo de exploração”, completou Natália.

24 comentários:

  1. É alarmante a realidade a observada nos casos de trabalho infantil e trabalho escravo no Brasil. Em ambos, há uma espécie de “subtração de direitos” como consequência da subordinação a uma pessoa em posição de autoridade. É dever do Estado assegurar e garantir os direitos sociais, civis e políticos de cada um, estruturando a cidadania genuína através da prevenção e do combate a práticas como essa. Uma criança não deve trabalhar por obrigação assim como um adulto não deve trabalhar por imposição, caracterizando a escravidão. A sociedade também tem um papel fundamental nessa questão, pois é chamada para participar ativamente dessa garantia. Uma criança deve ter oportunidades de inclusão, socialização, escolaridade, um bom sistema de saúde, segurança e outros direitos, assim como um adulto, e tem direito a liberdade, princípio fundamental da Constituição. As medidas em relação a esses dois tipos de exploração são de prevenção e de combate, pois assim como há casos a serem evitados, há casos para serem solucionados. A mentalidade, o social, emocional, físico e todos os outros aspectos de uma pessoa que sofre qualquer tipo de exploração de trabalho é afetado, e por isso é necessário lançar mão de meios para inclui-los na convivência com outras pessoas. Se a informação é um meio de prevenção, que seja efetuada com eficácia e de maneira plena. Aqueles que tem mais acesso a informação são os que estão mais distantes da realidade que carece dela e isso é um fato incoerente, por isso a atuação harmônica e ativa do Estado com a sociedade em favor de promover dignidade a todos é vital, promovendo cidadania a todos.

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  2. Tanto o trabalho infantil quanto o trabalho escravo são reflexos da desigualdade e da exclusão social. Muitas pessoas não tem acesso a uma vida digna, emprego de qualidade, educação nem a informação, acabam assim se sujeitando a condições precárias de trabalho afim de conseguir o sustendo diário . Por isso muitas crianças começam a trabalhar para ajudar seus pais a sustentar a família, são privadas de ter uma infância comum, saudável e alegre.
    Apesar de abominável esse tipo de trabalho explorador e desumano ainda faz parte da realidade brasileira, existem medidas de prevenção e fiscalização para que isso não ocorra, porém as próprias vítimas, por não terem outra opção aceitam a exploração e o autoritarismo pelos quais são submetidas. A falta de acessibilidade à educação e as políticas públicas são os grandes facilitadores desse tipo de abuso de direitos, pois a escola tem o papel fundamental de informar os direitos e deveres de cada individuo ensinando-os assim a lutar pela cidadania.
    Vivemos em uma sociedade livre, onde o trabalho infantil, assim como o trabalho escravo não deveriam existir, já que vão contra os direitos básicos do individuo. Mas um acaba que ocasionando o outro, já que a criança desde cedo é submetida à exploração, ao trabalho e a privação de direitos, quando se torna adulto está mais suscetível a aceitar novamente tais explorações.

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  3. Outro problema que vejo como fundamental são as relações que tais aliciadores e promovedores do trabalho infantil e escravo tem com alguns "barões" da sociedade, e em particular a paraense. Por mais que haja trabalhos, digamos, independentes, muitos são mantidos por grandes empresários e pessoas da alta sociedade, que pelo poder econômico, influem diretamente na política e nos rumos que o estado toma. Mesmo com todo o conhecimento que se têm acerca dos pontos em que se realizam tais trabalhos, porquê eles parecem se alastrar como uma praga de gafanhotos? Desbancar tais esquemas são demasiadamente complicados, e concordo com o texto no que diz respeito à educação como forma de combate. Se a comunidade estiver bem informada, e quem sabe até mobilizada, tais casos hediondos podem vir a diminuir criticamente.

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  4. Estudando essas relações, podemos perceber a fragilidade que há no Brasil quando se trata de educação e de fiscalização das condições de trabalho. Pessoas são postas desde a infância para trabalhar e nem sequer têm acesso à noção mínima de que estão sendo exploradas e têm direito a não sofrer esse tipo de abuso. É um quadro realmente alarmante e que expõe também a antiga questão do coronelismo no país, onde homens poderosos, latifundiários, enfim, têm poderes e condições para pisotear a própria lei.

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  5. É desumano ver a situação dessas pessoas que se sujeitam a serem exploradas pelos seus patrões em troca de centavos ou ate mesmo de graça, tudo pela carência de educação e emprego que proporcione uma qualidade de vida a esse individuo,enquanto isso fala-se em copa do mundo,apenas para mascarar a realidade que vive um pais que quer ser uma potência mais que não investe em setores básicos

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  6. Esta situação é mais uma forma de mostrar como a educação é tão importante e tão precária no nosso país. Essas crianças e adolescentes são acostumados a viver em condição de exploração desde cedo por necessidade s e por falta de informação.
    Elas estão à mercê da sociedade, não tem opções a não ser trabalhar para ajudar suas famílias. E por esse motivo outras pessoas se aproveitam delas, na maioria das vezes os “poderosos”, para explora-las, e elas se submetem a isso porque não tiveram uma educação cidadã e não conhecem seus direitos.
    É através da educação que poderão conhecer seus diretos e também seus deveres para com a sociedade, para que possam lutar por eles e sair desta vida de exploração e viver como cidadãos.

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  7. É quase inacreditável que a exploração do trabalho infantil e a escravidão ainda ocorram na sociedade contemporânea. Pode ocorrer de forma mais evidente, que é o caso dessas fazendas que mantêm funcionários de forma precária e desumana. No entanto isso pode ocorrer de forma mais sutil como muitas famílias que vão até os interiores e buscam meninas para "criarem", porém mantêm-nas em condições de completa escravidão, explorando-as no trabalho doméstico e privando-as de irem a escola.
    Conheci alguns casos como este, em que a "patroa" ao sair, trancava a cadeados a garota.
    O que faz uma pessoa pensar que exerce algum "poder" sobre o outro, a ponto de trata-lo como um objeto adquirido?

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  8. Este artigo, nos remete ao assunto que vem acompanhando a história desse país por muito tempo. Hoje, tomamos isso como um grande absurdo, devido o Brasil já possuir um elevado estágio de desenvolvimento, se comparado a muitos anos atrás. Mas, a exploração do trabalhador, principalmente, das crianças, ainda ocorre em diversas áreas de trabalho brasileira. Como a própria autora coloca em, significativa, evidência, devemos tomar essa luta como sendo parte do dia-a-dia de cada um de nós. Isto pode ser feito através de diversas formas, tais como: adquirir conhecimento dos direitos a que nos pertence e do repasse destes para outras pessoas que não os conhecem e que, possivelmente, podem ser, futuramente, alienados; luta pela melhoria de vida das famílias consideradas marginalizadas da sociedade, devido este cenário ser bastante propicio, em bucas de uma melhoria de vida, para a inserção do trabalho exploratório; entre outras. Portanto, não devemos e nem podemos nos deter diante dessa triste e lamentável situação que está assombrando e tomando posse, cada vez mais, da população de nosso país, pois esta e composta de seres humanos, os quais todos possuem direitos e deveres, na qual devem ser aprendidos e vividos.

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  9. Infelizmente, esses casos de exploração do trabalho infantil e de trabalho escravo - sendo este, adulto ou não - são persistentes na realidade brasileira e também na, mundial. É interessante notar que nessa relação, existe a ideia de poder e de subjugação - muitas vezes aceita até mesmo pelo subjugado - de uma pessoa sobre outra, historicamente. Essa aceitação, na maioria das vezes decorre pela falta de opção com relação à sua sobrevivência e a de sua família. Também isso pode ocorrer por não conhecimento de seus direitos. Esses, por sua vez, podem ser divulgados através da formação (na educação formal), mas se não a houver, pode-se informar.
    Sendo que "a cidadania é o próprio direito à vida no sentido pleno" (MANZINI-COVRE, Maria de Lourdes. O que é cidadania. São Paulo, Brasiliense, 2006. p. 11.), a mesma está sendo negligenciada.
    Esse descaso com a formação na educação formal,pode acontecer pela defesa de interesses pessoais e de classes dominantes, uma vez que, desde outrora, certos grupos também dominantes usam o conhecimento como um instrumento de poder, como o que aconteceu na época da ditadura militar quando não se podia estudar Sociologia e Filosofia nas escolas.
    Sabe-se que a educação ajuda muito nesse processo de minimizar esses acontecimentos calamitosos, mas mesmo assim, -apesar de alguns progressos- muito há de se melhorar.

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  10. O projeto Escravo, Nem Pensar! é um passo necessário para exercermos de fato a democracia - o poder é do povo e não do governante, este apenas nos representa - e pressionar o governo- que atualmente ‘’representa’’ mais a si próprio do que nós, pois age em torno de seus interesses.É fundamental fazermos valer a democracia para que em um futuro gradativo todos possamos exercer de fato nossos direitos.
    A criança que é e explorada com fortes trabalhos manuais no campo tem o mesmo direito que qualquer criança, princípio aplicado apenas na teoria em nossa atual democracia – ‘’pseudodemocracia’’. Democratizar a cultura, democratizar a educação, democratizar direitos, enfim, precisamos democratizar a vida!

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  11. É lamentável, mas faz parte da realidade, o fato do trabalhador brasileiro ainda está fardado a essas condições deploráveis de trabalho.
    Isolados, sem perspectivas, sem informação, os trabalhadores são alvos fáceis de aproveitadores, passando vida sendo explorados e ludibriados.
    A questão do trabalho infantil é ainda mais alarmante. Se a criança desde cedo está sendo condicionada a formas desumanas, tudo indica que essa criança quando adulto terá a tendência de desempenhar um trabalho escravo, já que as políticas desse país fecham os olhos para os menos favorecidos.
    Enquanto a mídia mostra trabalhadores sorridentes nas obras para a copa do mundo, crianças perdem a sua infância. Aonde está a coerência nisso?
    As políticas brasileiras, remetem seus investimentos para determinados setores, fazendo acordos comerciais para potencializar o país, criando um ambiente de desenvolvimento, mas colocam uma "venda" e esquecem de limpar a feridas na democracia deixadas pelo abandono.
    Me pergunto, se "o trabalho dignifica o homem", por que as pessoas nessa situação são tratadas como indignas? Acho que no nosso país a citação que melhor representaria a realidade, seria: "O capital dignifica o homem".

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  12. É muito importante lembrar sobre a idéia combater a escravidão infantil com a educação, parando para analisar isso é uma proposta muito forte, pois quando uma pessoa conhece sues direitos ela quer informar outros sobre esses benefícios. Porém outra coisa que poderia dar um resultado ainda maior seria a mídia em diversos modos, principalmente por meio da televisão, pois a maioria dessas pessoas é de renda muito baixa. Outra alternativa seria a realização de projetos nas comunidades para conscientizar as pessoas e combater a escravidão infantil. Entretanto o trabalho escravo assim como o trabalho infantil só vão realmente diminuir quando a educação pública no Brasil melhorar e quando todas as pessoas tiverem acesso a essa educação. E quando as famílias de baixa renda tiverem um maior amparado do governo

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  13. É mais fácil escravizar alguém quando se é criança, devido ao pouco dicernimento das coisas quando se é jovem. Crianças são exploradas e obrigadas a exercer o trabalho braçal desde cedo muitas vezes motivados a fazer-lo pela baixa condição socio economica das suas famílias. Acostumadas a esse ambiente, crescem sem muita perpectiva sendo cada vez mais exploradas. O papel da educação e das escolas na vida dessas crianças é muito importante para conscientiza-las sobre a exploração exercida e o trabalho escravo. É deprimente verificar em dados que o nosso Estado tem um dos maiores índices de exploração e escravidão, como não há como ter controle total sobre os 'escravocratas da modernidade' faz-se necessário orientar os trabalhores para que tome consciência sobre seus direitos.

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  14. No Brasil, apesar da lei estabelecer a idade mínima de 16 anos para o ingresso no mercado de trabalho, a norma é absurdamente desrespeitada pelos seguintes motivos: o trabalho infantil é mais barato; serve como ajuda à renda familiar, muitas vezes, inexistente; falta de programas do poder público que complementem a renda familiar. A sociedade e o Estado precisam se atentar imediatamente para esta problemática. Pois, é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde e etc. Segundo o IBGE são mais de cinco milhões de crianças e jovens entre 7 e 15 anos que trabalham em geral na agricultura. Diante disso tudo resta indagar: até quando ocorrerá esse descaso e negligência social e moral?

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  15. É difícil imaginar que em pleno século XXI ainda exista relações de escravidão.Essas relações se dão a partir de que o sujeito detentor da mão de obra aceita a submissão por parte daquele que se diz superior a ele.Essa submissão só ocorre quando o sujeito não conhece seus direitos e submete-se achando que é menor do que os outros.Essas pessoas geralmente são de baixa renda e que sempre tiveram exemplos desse tipo de trabalho na sua vida como:pais, tios,avôs e etc.O qual se tornou algo "normal" em suas vidas.

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  16. O trabalho escravo tanto de crianças como de adultos na atualidade é uma clara herança histórica deixada pelo sistema de colonização implantado em nosso país, pautado no sistema de plantation, ou seja, com uma base escravista de exploração dos latifúndios; daí podemos compreender todo o sistema social brasileiro: a partir do acesso à terra. Após a Lei Eusébio de Queirós de 1850, no mesmo ano foi efetivada a Lei de Terras, determinando que só se teria acesso á terra no Brasil mediante a compra; dessa forma, uma massa de ex-escravos que aos poucos se viam “livres” dos grilhões da senzala ficavam impossibilitados de conseguir terras, tendo que ou voltar para o “senhor” ou tentar vender sua força de trabalho nas cidades que cresciam, os poucos que conseguiam comprar seus punhados de terra ficavam imprensados entre os latifúndios monocultores, muitos conseguiram se manter em suas posses, mas por pouco tempo. Aos poucos o cenário brasileiro foi se modificando e as tecnologias começaram a chegar ao campo, as empresas multinacionais, com seus produtos agrícolas invadiram o espaço rural e estabeleceram uma desapropriação sem precedentes, em que as grandes propriedades começaram a aglutinar as pequenas fazendas, engolindo-as como um grande leviatã, entretanto, a forma com que se deu esse processo acarretou diversas consequências nefastas. Os pequenos proprietários, quando não dispostos a vender suas terras eram – e ainda são – ameaçados, acuados e deveras violentados de forma física e psicológica até que aceitam – sem ter escolhas – a vender suas terras por uma quantia que não cobre nem as passagens da família para a cidade, dessa forma, a família como um todo, pais, mães e filhos se veem obrigados a vender sua força de trabalho quase de graça – muitas vezes de graça mesmo – para pelo menos ter um local onde morar. Sei que não é apenas a distribuição de terras que vai mudar essa realidade vivenciada por milhões de brasileiros, entretanto, acredito que ela seja de fundamental importância para um vislumbre de igualdade e uma tentativa de diminuição do trabalho escravo adulto e infantil, a reforma agrária é lei e está explicitada no capítulo III, título VII da Constituição Federal de 1988; é uma lei que deve ser efetivada, é um direito que, quando não respeitado, acaba por coisificar os trabalhadores por não terem outra opção; é um dever do governo não permitir que os “Severinos” de Morte e Vida Severina do poeta João Cabral de Melo Neto não continuem se reproduzindo em nosso país!

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  17. Frequentemente o trabalho escravo está intimamente ligado ao trabalho infantil, em que muitos começam a fazê-los antes dos 11 anos. Tal ocorrência viola os capítulos V e VI da Lei nº 8.069, de 13/07/1990, onde respectivamente são definidos direitos à educação e à proteção ao trabalho, em que fica claro a obrigação dos responsáveis em matriculá-los em uma escola - Art.55, como mostra-se no Art.60 a proibição de trabalo ao menores de 14 anos, assim como no desenvolver do capítulo aborda-se vedação ao trabalho em locais prejudiciaisao desenvolvimento físico, psíquico, moral e social, e trabalho que impossibilitem a frequência escolar do mesmo.Essa triste realidade que ainda é encontrada mostra-nos a fragilidade das fiscalizações na zona rural, onde encontra-se a ocorrência dos fatos, tal fragilidade também é encontrada no âmbito familiar em que são vulneráveis socioeconomicamente, tornando-se o trabalho à criança uma obrigação ao sustento do mesmo. O que leva-o ao costume e a naturalização dessas situações de exploração, no seu desenvolvimento até a vida adulta, a essas situações de exploração, sendo pouco remunerado ou até não recebendo nada, e tais acontecimentos ocorrem devido a ausência de educação onde a criança recebe informações sobre os seus direitos.

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  18. Íris Silva
    A relação entre trabalho infantil e trabalho escravo está extremamente entrelaçados,e apesar de haver uma legislação que garante os direitos da criança e do adolescente ,há também uma lacuna maior ainda entre a teoria e aplicabilidade.
    A educação pública no Brasil é precária e quando existe,muitas vezes,serve como uma difusora de contéudos que ajudam a tornar o indivíduo apenas em força de trabalho e não um ser crítico e modificador do meio em que está inserido,a educação inclusive pode ser utilizada como sustentadora de uma forma de poder,ao invés de auxiliar a desnaturalizar a exploração.
    Acredito que com maior disponibilidade de condiçoes básicas a população sinais de melhora seriam visiveis,afinal onde há educação e informação a manipulação dos indivíduos se torna mais dificil.

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  19. Anniely freitas.

    O trabalho infantil ainda e uma realidade presente no Brasil principalmente nas áreas mais afastadas dos grandes centro urbano, onde ocorre a naturalização do mesmo devido a inicialmente ele ocorre dentro do circulo familiar, as famílias vão funcionar como uma unidade de trabalho onde a participação da criança/adolescente se fara necessário para obtenção de renda.
    E justamente essa naturalização juntamente com a falta de acesso a educação que vai criar margem para o surgimento do trabalho escravo.
    Torna-se necessário o esclarecimento não somente destes trabalhadores de que "sim eles tem direitos", mais também a divulgação dessa realidade para o restante da população, e da necessidade de uma intensificação da fiscalização por dos órgão públicos para busca por fim a essas praticas exploratórias.

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  20. É importante frisar que o trabalho infantil e o trabalho escravo andam de mãos dadas.A cadeia de exploração é extremamente complexa e ardilosa,por isso,o início da cadeia se dá na infância,no elo mais fraco.Justamente por ainda não apresentar senso crítico ou algum tipo de resistência,um indivíduo na fase infantil consegue se inserir facilmente na rede de exploração,continuando atado à ela até a fase adulta.
    Entretanto,na fase adulta o indivíduo modifica o seu olhar sobre a realidade em que ele está inserido,manifestando assim certa resistência sobre os abusos sofridos.Neste momento,que se faz necessário o uso da coação para garantir a manutenção deste sistema ladino,seja ela vis absoluta ou vis compulsiva.A primeira se refere ao uso da força física e a segunda ao uso da força moral para coagir o indivíduo.
    Em meio a este contexto,projetos como o "Escravo,nem pensar!" exercem um papel fundamental na sociedade à medida que esclarecem e desenvolvem a conscientização das pessoas acerca deste drama,promovendo assim,um gradativo avanço na luta contra o trabalho infantil e escravo.

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  21. Sobre a condição sociojurídica da criança e do adolescente, Roberto Maurício Genofre, em Família: uma leitura jurídica, afirma que “A Constituição Federal, no seu artigo 227, determina que sejam a eles assegurados os direitos inerentes à cidadania, tais como o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e social, em condições de liberdade e dignidade” (p. 102).
    Comprova-se, então, a que nível repugnante chega nossa sociedade que até os dias de hoje não agiu, em proporções ideais, determinada a combater efetivamente o trabalho escravo, e simultaneamente, a retirada de liberdade e vida de nossas crianças. A escravidão infantil se sustenta em outra ferida social, a deficiência de políticas públicas que proporcionem dignas condições de vida à família brasileira. As precárias condições de vida de famílias de classe baixa não lhes possibilitam, muitas vezes, desempenhar ao máximo seu potencial de educar, desenvolver e formar a criança e o adolescente. Por conta da desestruturação da família muitas crianças são direcionadas trabalho escravo.

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  22. O trabalho semelhante ao escravo é uma infeliz realidade brasileira, que não escolhe idade nem estados, acontece em todo o lugar, acontece tanto no meio urbano, como estrangeiros que costuram por horas, em local precário, para grandes grifes , para receber um pagamento indigno, como no meio rural, por famílias geralmente, numerosas, cujo a necessidade de manter-se é grande. Levando a venda da sua força de trabalho, já que existe a baixa escolarização. Educação, sim, é o principal, mas também existe os casos de não ter nem o que levar para a escola, ou o percurso para chegar até a escola é precário demais, e também a incógnita, estudar ou me manter vivo? e aos filhos que não estudam, suas mães devem pensar: trabalhar ou criminalidade? São vários os fatores, é necessário sim que haja um conhecimento sobre seus direitos, sobre a situação de exploração, mais é necessário também que haja o amparo a essas famílias que vão preferir o conhecimento, pois infelizmente é da exploração que se ganha o seu alimento, que se paga a sua conta. Sem contar que, é necessário não só a conscientização de crianças, mas também de pais, e proporcionar as famílias um modo de sair da exploração, além da educação mais também por projetos governamentais, como exemplo, os artesanais, para gerar um lucro e uma satisfação pessoal, porque é a realidade, o homem submetido por muito tempo aquele mesmo estilo de vida exploratório, acaba se acostumando, até porque sabe que sua voz, não é a que vale. Pois existe um patrão, que entende que se o funcionário se rebela, tem outros na condição de pobreza querendo aquele lugar. Então, é essa medida, ter conhecimento dos realmente pobres, e não sair distribuindo "bolsa família" para sustentar quem não está na condição de exploração ou deficiência. Incentivo + Educação. Essa é a idéia

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  23. É preocupante o fato de se falar em desenvolvimento do pais pela mídia, políticos e afins e ainda enxergarmos essas situações de trabalho que deveriam ser obsoletas não apenas na teoria mas também na prática. O trabalho escravo fere os direitos primordiais garantidos por lei, começando com a exploração do trabalho infantil e criando uma rede inesgotável de exploração com suas bases fortalecidas pela falta de conhecimento e alternativas que as pessoas sujeitas a esse tipo de trabalho não possuem.
    A implantação de projetos para difundir informações é de grande importância pois, como é citado no texto, os multiplicadores de conhecimentos são inibidores de tal prática abusiva através do conhecimento.
    A problemática encontra-se na dificuldade de desconstruir um processo que está enraizado nos primórdios da sociedade brasileira e, infelizmente, pode-se dizer, que virou uma alternativa viável em regiões mais afastadas, com poucos modos de sustento e desprovidas ou com meios insuficientes de informação e pelo fato de acontecer em regiões mais afastas dos centros urbanos, também dificulta a fiscalização em um pais tão grande como o nosso. Então a solução mais viável, além de grandes esforços para uma melhor fiscalização, é difundir informações e executar projetos com o fim de conscientizar.

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  24. MariaAA

    O trabalho escravo e o trabalho infantil, são realidades muito próximas de nós, mas que para muitos parecem distantes. Mas o fato é que ainda há esta exploração ilegal do tabalho, muitos trabalhadores são enganados por ótimas propostas de emprego, vislumbram-se pelo o que lhe são oferecidos, pois buscam uma vida melhor, e no final acabam tornando-se mão-de-obra escrava.
    De fato a educação é a base, é a solução para que se torne maior a conscientização da população. Para que todos tenham conhecimento dos seus direitos, e não se deixarem enganar.

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