sábado, 30 de março de 2013

Psicologia e Direitos Humanos

Publicado em: http://www.crprj.org.br/

Entrevista com Luciana Knijnik (CRP 05/33458), psicóloga e militante de direitos humanos.

1) Como você vê a relação entre Psicologia e direitos humanos?
A Psicologia tem uma tradição de ver seu trabalho como não intervindo no campo político. Mas todo psicólogo é político, querendo ele ou não, porque a prática do psicólogo é atravessada por todas as forças econômicas, sociais, culturais. E, ao mesmo tempo, o psicólogo também está intervindo nesses mesmos campos que compõem a produção de subjetividades.
Nesse sentido, o campo dos direitos humanos não é um especialismo, não seria uma especialidade do psicólogo, mas uma maneira de ver o mundo e de agir, de produzir sua intervenção.

2) Como a questão dos direitos humanos afeta o cotidiano profissional dos psicólogos?
Ela está presente em todo nosso campo de atuação. Os valores que estão colocados nas declarações de direitos humanos e em todo o Sistema de Garantias pautam, inclusive, o nosso código de ética. Ele está embasado nas declarações de direitos humanos: o respeito, a promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade, da integridade etc. Todos esses são valores e bandeiras de luta do campo dos direitos humanos, mais isso pode acontecer em qualquer espaço: no consultório particular, em uma instituição, em um espaço de militância
etc.

3) Como você vê o tratamento dado aos direitos humanos hoje em nossa sociedade? Que tipos de violações ainda são cometidas?
É preciso ver que há várias concepções sobre o que são direitos humanos. Os direitos humanos são resultado de um processo histórico, das lutas dos povos e, dependendo do momento histórico, eles foram usados com uma intenção ou outra. No período da ditadura militar, a discussão sobre direitos humanos ganhou força no Brasil, principalmente porque os inimigos eram, em muitos casos, filhos da classe média. Hoje em dia, os atingidos pelas maiores violações de direitos humanos são os pobres. Por isso, diz-se muito que direitos humanos é “coisa para defender bandido”. Enquanto eram os filhos da classe média e trabalhadores que estavam sendo atingidos, essa discussão tinha uma legitimidade. Então, parece que hoje em dia ainda temos que colocar em discussão tanto o conceito de direito quanto o de humano. O que vem se produzindo é que quem é pobre ou bandido é colocado na categoria de “não humano”, então não teria direitos - assim como, na época da primeira Constituição, os escravos não eram considerados humanos, mas propriedade privada, então estavam fora do tema de garantia de direitos, porque não eram cidadãos. Hoje, permanece a mesma lógica.

4) Mas, nessa época, isso estava colocado na Lei. Hoje, a Constituição diz que todos são iguais perante a Lei...
Se formos abrir o jornal cotidianamente, está sendo produzida essa associação da pobreza e de quem comete algum delito como “não humano”, colocando-os como monstros, pessoas que não têm propriedade de suas faculdades mentais. Então, começamos a ter essa sensação, de que essas pessoas estão fora do sistema de garantias. Aí, está a primeira falácia da Declaração de Direitos Humanos, que diz que todos nascem livres e iguais. De fato, sabemos que isso não acontece, as pessoas vivem em situações muito desiguais, então isso já as coloca em patamares diferentes. Não podemos dizer que elas nascem iguais, porque elas não nascem com as mesmas condições de acesso nem aos direitos básicos. Essa é uma das lutas no campo de dos direitos humanos: os direitos básicos de alimentação, de moradia, de saúde etc., mas direitos humanos não são só isso; são muito mais, são uma luta pelo direito à potencialidade
que a vida permite e nem todos têm acesso.

5) Sobre essa questão que você comentou, de que se diz que direitos humanos são só para bandidos, como esse discurso é produzido? Como a Psicologia pode contribuir nesse ponto?
A Psicologia vem contribuindo mais para legitimar essa visão, na medida em que patologiza crimes e delitos e, em muitos casos, não vem promovendo essa discussão sobre o modo como estamos vivendo e como isso leva a determinadas condutas. Então, enquanto a Psicologia continuar fazendo discussões no campo do individualismo, não vamos ganhar força para fazer esse debate com mais propriedade. Os laudos produzidos pelos psicólogos são, muitas vezes, um instrumento disso, de legitimar essa patologização da pobreza.

6) Você está lançando o documentário Arquivos da Cidade. Como essas questões sobre direitos humanos estão presentes nele?
Esse é um trabalho que comecei em 2005, quando iniciei meu mestrado na UFF, e comecei minha militância no Grupo Tortura Nunca Mais. O tema da minha pesquisa era a experiência da tortura, então trabalhei com pessoas que foram torturadas no período da ditadura e pessoas que foram torturadas após o término oficial da ditadura militar. Já nessa época, comecei a trabalhar com vídeo – sou psicóloga, não sou da área do cinema, mas utilizei esse recurso como instrumento de trabalho, então, esse documentário que estou lançando é um trabalho com entrevistas com pessoas que eram militantes no período da ditadura no Rio Grande do Sul. Ele é um instrumento para discutir não só a violência de Estado na ditadura, mas os mecanismos que ainda hoje permanecem. Ele é um dispositivo para que as pessoas possam falar dessa experiência. Vemos que essa é uma experiência que fica silenciada. Como não temos no nosso tecido social no Brasil um ambiente que permita que as pessoas falem dessa experiência, elas acabam ficando restritas ao âmbito do privado. Então, esse é um instrumento de intervenção, também do psicólogo. Porque, às vezes, achamos que a Psicologia só tem determinados campos de atuação, e acho que ainda podemos inventar novas práticas para o psicólogo. Às vezes, achamos que fazer uma música, um filme ou uma pintura não tem nada a ver com a Psicologia, mas tudo isso pode ser recurso para a prática do psicólogo.

7) Você falou sobre pessoas torturadas após o término da ditadura. De que formas a tortura ainda está presente em nossa sociedade?
A tortura está absolutamente legitimada. Em todas as prisões, cadeias e espaços que seriam de recuperação de jovens, a tortura é uma prática que está absolutamente instituída. E fechamos os olhos para isso. Não só fechamos os olhos como a população, muitas vezes, apoia explicitamente essas práticas, dizendo que bandido tem mais é que sofrer mesmo, que quem cometeu algum crime tem que pagar por isso etc. É certo que tem muita gente sendo torturada em nosso país.

sábado, 23 de março de 2013

É assim que se faz uma Copa do Mundo?



Nesta sexta-feira, o Batalhão de Choque da Polícia Militar invadiu a Aldeia Maracanã, antigo Museu do Índio, e agiu com extraordinária truculência. Os policiais  jogaram bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo, gás pimenta, bateram nos manifestantes e prenderam ativistas e estudantes. A Aldeia estava ocupada desde o ano de 2006 por grupos representativos de diferentes nações indígenas que, nos últimos tempos, diante do projeto de demolição do prédio (para aumentar a área de dispersão do Estádio do Maracanã, estacionamento e shopping), vinham resistindo.
As lideranças indígenas são apoiadas por diversos movimentos sociais, estudantes, pesquisadores, universidades, comitês populares, organizações nacionais e internacionais de defesa dos Direitos Humanos, redes internacionais e outras organizações da sociedade civil. A luta dos índios e o conflito estabelecido entre o governo e o movimento resultaram num importante recuo do governo, que diante da pressão social desistiu da demolição do prédio e passou a defender a sua “preservação”. A desocupação do prédio foi decretada, com hora marcada. Os índios, no entanto, continuaram a resistir, apoiados por diversas organizações.
Certamente essa posição política ensina muito mais aos cidadãos cariocas e ao mundo sobre preservação, direitos e cidades do que as violentas ações que vêm sendo mostradas nos diversos meios. Para os índios e para as organizações sociais que os apoiam, preservar o prédio vai muito além de preservar sua materialidade. A essência da preservação, neste caso como em muitos outros, está na preservação das relações sociais, usos e apropriações que lhe dão sentido e conteúdo. Seria um exemplo para o Brasil e para o mundo a preservação da Aldeia Maracanã, o reconhecimento de seu uso social e a pactuação democrática acerca da reabilitação arquitetônica do edifício.
Cada vez que se comete um ato de violência que coloca em risco a integridade de um grupo social indígena, se esfacela sua cultura, seu modo de vida, suas possibilidades de expressão. É uma porta que se fecha para o conhecimento da humanidade, como dizia Levi-Strauss. É essa a Copa do Mundo que o governo quer fazer? É esse espetáculo da violência, a lição civilizatória que o Rio de Janeiro tem para mostrar ao mundo? A política-espetáculo tem um efeito simbólico: mostrar que o avanço do projeto de cidade, rumo aos megaeventos esportivos, far-se-á a qualquer custo.
Direitos humanos, democracia e pactuação estão fora da agenda deste projeto de cidade. Os manifestantes, em absoluta condição de desigualdade frente à força policial e seu aparato de violência, lançaram mão de instrumentos bem diferentes daqueles utilizados pelo Batalhão de Choque: ocuparam o prédio para apoiar os índios, resistiram à sua desocupação e manifestaram, no espaço público, nas ruas e avenidas do entorno do complexo do Maracanã, sua reprovação e indignação frente à marcha violenta desta política.
Autoria: Fernanda Sánchez, professora da UFF e pesquisadora sobre megaeventos e as cidades.


sexta-feira, 22 de março de 2013

Racismo: O que a Psicologia tem haver com isso?

O Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ), produz um jornal bimestral, com intuito de levantar discussões referentes aos temas que se encontram em destaque nas pautas de debates com os psicólogos do Brasil. Na edição (18), o jornal procurou discutir o Racismo no Brasil. Acompanhe agora, a entrevista realizada com Edson Passetti, professor do Departamento de Política e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP e coordenador do Núcleo de Sociabilidade Libertária (NU-Sol).

                            

1) Em algumas entrevistas, o senhor disse que estamos em uma sociedade de transição entre a disciplinar e a de controle. Como se caracteriza cada uma delas? Que características de cada uma vemos na sociedade atual?
Em poucas palavras, a sociedade disciplinar, das fábricas, escolas, prisões, hospitais, que operava por controle descontínuo está desaparecendo. Em cada um daqueles espaços havia um controle similar do território e das pessoas que ali habitavam. Delas se esperavam obediência, produtividade e quase nenhuma resistência. Todavia, quando saíam para o espaço público (nas ruas, avenidas, esquinas...) encontravam outros indivíduos insatisfeitos, isolados ou agrupados em associações; a eles se juntavam e davam forma às resistências às disciplinas e aos governos por meio de mobilizações capazes de inventar uma nova existência. Isso era insuportável à ordem por trazerem insurreições e revoluções. Todavia, na atual sociedade, os controles a céu aberto são contínuos e vão do trabalho, ao estudo, ao lazer, à política, ao andar pelas ruas vigiadas eletronicamente, sob domínio de polícias e tráficos... a uma existência computo-informacional. Não sobram mais espaços para agitar desgovernos. Por isso mesmo, os principais controles dessa sociedade acontecem por meio de direitos de minorias que pretendem ser majoritários na política representativa e, ao mesmo tempo, participativos nas tomadas de decisões pontuais. A sociedade disciplinar normalizava condutas; a de controle a supera: medica para obter uma normalização aperfeiçoada do normal, como maneira de educar para a participação, segundo uma utopia conformista fundada na supressão das resistências.

2) É possível haver democracia dentro da sociedade neoliberal em que vivemos?
A sociedade atual busca institucionalizar a democracia representativa e participativa como realidade e utopia. Em função disso até a ditadura do proletariado chinesa está se acomodando para perpetuar sua a continuidade. Hoje em dia, os especialistas se adiantam para dizer que o neoliberalismo acabou ou está em vias de acabar. Isso pouco importa. O capitalismo na sociedade de controle é um investimento político inibidor de resistências; qualquer deslocamento para exigir mais ou menos atenções sociais do Estado apenas atualiza seus contornos discursivos.

3) Como pode ser vista a questão da discriminação racial dentro dessa sociedade?
Ela opera por dois fluxos. No primeiro estão os direitos de minorias que garantem uma específica participação de setores até então abertamente discriminados e que passaram a se organizar pelo dispositivo de elites (mulheres, pretos, gays, deficientes...). O outro fluxo, absorve esta pletora de direitos e distribui as minorias no âmbito político majoritário representativo e participativo, fazendo-as funcionar como apoios e complementos às elites econômicas, gerenciais, culturais, militares, políticas. Assim, os dispositivos de direitos acabam acoplados aos repressivos, emergindo desde políticas afirmativas associadas a uma moral penalizadora; ampliada até programas de seguranças para comunidades vigiados e controlados por elas mesmas. Estranhamente, tanto as comunidades como os grandes condomínios passam a funcionar como campos de concentração. Os direitos de minorias funcionam como faca de dois gumes, que corta de ambos os lados, que corta quando parece proteger: asseguram para punir, separam para incluir, organizam para controlar. Incluem mesmo discriminando; eis uma novidade.

4) Qual o papel do Estado na reprodução de subjetividades e, especificamente, do racismo? E o papel da mídia?
Não há racismo sem Estado, seja para exterminar como no nazismo, seja para fazer produzir como no socialismo soviético, seja para se administrar identidades como na sociedade atual. Repetem-se técnicas de controles do campo de concentração. O controle das populações, numa economia constantemente reterritorializada e que permite fluxos ampliados de trânsitos de trabalhadores, permanece fundamental para segurança transnacional de Estados e empresas. A mídia, por sua vez, dinamiza o funcionamento dos direitos como faca de dois gumes: expõe, descreve, julga, executa por meio do documentário, da reportagem ao vivo, dos anchormen e anchorwomen, das preparações para programas culturais e de entretenimento. Ninguém se dizracista, mas sempre conhece alguém racista. As pesquisas e nossas vidas mostram isso. E se a solução do nazismo foi o extermínio, do socialismo autoritário a prisão perpétua, a da sociedade de controle democrática é punir, encarcerar ou aplicar penas alternativas e serviços à comunidade. Ainda se crê que se supera o racismo com punição.

5) Como o senhor acha que seria possível combater o racismo dentro dessa sociedade?
Isso é uma prática de pessoas livres. Não há mais lugar para o intelectual-profeta e seus asseclas, que dizem como deve ser e fazer para comandar com rigor a fé do movimento. É preciso estar atento para a disseminação de práticas fascistas e combatê-las; é preciso inventar formas à impaciência da liberdade. 

Para acompanhar a edição na íntegra é só clicar no link abaixo: 

terça-feira, 19 de março de 2013

Lançamento do GT Drogas, Cidadania e Direitos Humanos


Programação:

08h30 às 09h
Mesa de abertura: Lançamento do Grupo de Trabalho “Drogas, Cidadania e Direitos Humanos”. Participantes: Conselho Regional de Psicologia da 10ª Região, Programa de Pós-graduação em Psicologia PPGP-UFPA, GT Drogas, Cidadania e Direitos Humanos, Conselho Estadual sobre Drogas – CONED.

09h às 10h
Palestra: “Política Estadual sobre Álcool e outras Drogas: Avanços e Desafios” Palestrante: Marilda Couto (Coordenadora Estadual de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Pará).

10h às 10h30
Debate 

10h30 às 12:30
Cine-Debate com o Grupo Transversalizando.

12h30 às 14h15
Intervalo 

14h15 às 15h30
Mesa-redonda: “Política de Redução de Danos no Estado do Pará” Palestrantes: – Ester Sousa (Movimento de Luta Antimanicomial -MLA); – Antônio Sena (Representante dos Usuários dos Serviços de Atenção de Álcool e outras Drogas); – Ana Cristina Lima Oliveira (Coordenadoria de Prevenção, Tratamento e Redução de Danos do Uso de Drogas da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos – CENPREN) 
Mediação: Rosângela Santos (Coordenadora do GT Drogas, Cidadania e Direitos Humanos).

15h30 às 16h
Debate 

16h às 17h30
Mesa-Redonda: “Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e a Política de Internação Compulsória” Palestrantes: – Jureuda Guerra (Vice-Presidente do CRP10 e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Pará); – Moisés Ribeiro de Carvalho Jr. (Médico Esp. em Dependência Química – CAPS III AD Marajoara). 
Mediação: Artur Couto (Membro do GT Drogas, Cidadania e Direitos Humanos e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Pará);

17h30 às 18h
Debate



Convite para Defesas de Trabalho de Conclusão de Curso

O grupo Transversalizando convida-os para as Defesas de Trabalhos de Conclusão de Curso: 

1- Título: Artigo 228: Análise de PECs sobre a justifictiva da redução da maioridade penal.
Autora: Fernanda Teixeira Neta

Banca examinadora: Flávia Lemos (orientadora); Ana Carolina Franco (co-orientadora); Pedro Paulo Piani (avaliador); Ellen Aguiar (avaliadora).

Data: 21 de março de 2013 às 11h. 

Local: Sala de Aula do Programa de Pós Graduação de Psicologia (PPGP), localizada no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Pará (UFPA).


Resumo:
Sabendo-se que se vive em uma sociedade, a qual está caminhando em um processo de
subjetivação pela racionalidade securitária demandando medidas repressoras e punitivas
a fim de conter a violência; e que um dos atores principais propagados como causadores
dessa violência são os jovens, sobretudo, os pobres e negros, recaindo sobre estes medidas
de recrudescimento penal. Este trabalho buscou analisar, a partir do método genealógico
de Michel Foucault, as justificativas presentes nas Propostas de Emendas Constitucionais
à Constituição Federal as quais propõem a redução da maioridade penal. Nesta pesquisa
foram analisadas seis propostas que tramitam no Senado Federal. Os aspectos mais
salientes e recorrentes que justificam a redução da maioridade penal referem-se ao fato de
que tais documentos tomam o ECA como uma legislação que não pune exemplarmente; de
que os adolescentes já teriam completado o desenvolvimento maturacional, por isso, sabem
discernir o certo do errado; de que os mesmo têm amplo acesso às informações; e de que as
medidas socioeducativas são ineficazes.

Palavras-chave: Genealogia; Redução da Maioridade Penal; Criminalização da Pobreza;
Juventude.

2- Título: Educação infantil no Brasil - contextos e problematizações
Autora: Nathália Dourado 

Banca Examinadora: Prof. Dra. FLávia Lemos (orientadora); Profº Dr. Pedro Paulo Piani (avaliador), Msc. Vilma Nonato Brício (avaliadora)

Data: 21 de março de 2013 às 14h30.

Local: Sala de Aula do Programa de Pós Graduação de Psicologia (PPGP), localizada no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Resumo:
Este trabalho é uma revisão da literatura sobre educação infantil, em periódicos da CAPES da área de Psicologia no período de 2002 a 2012. A educação infantil vem ganhando espaço na agenda mundial e importância nos últimos anos, resultado de lutas políticas e estudos desenvolvidos na área, além de efeito de uma política neoliberal implementada no Brasil recentemente. Verificou-se a necessidade de questionar quais são os saberes produzidos em regimes de verdade, e quais modos de subjetivação são desenvolvidos. O objetivo foi fazer um levantamento de artigos e analisa-los em seus contextos, problematizando-os. A análise foi ancorada em contribuições metodológicas de Michel Foucault. Encontrou-se 60 periódicos, dentre os quais foram utilizados 269 artigos sobre educação infantil. Analisamos regularidades discursivas, agrupando em eixos sobreo desenvolvimento da criança de 0 a 6 anos em espaços educacionais infantis, a discussão sobre políticas de educação para a primeira infância e discursos emergentes. A produção bibliográfica deste tema cresceu a partir de 2009, trazendo temas pouco ou nada antes discutidos nos parâmetros adotados nesta análise, como homossexualidade, preconceito e discriminação racial. Em todos os anos há artigos relacionando a escola à questão do cuidado e brincadeiras como fundamentais para educação. Analisamos que a educação infantil é atrelada ao governo das condutas e coadunada aos interesses de organismos multilaterais, os quais influenciam diretamente na elaboração de políticas públicas para esta área.É importante mais pesquisas sobre o que é visibilizado enquanto efeito de verdade acerca deste tema, bem como pesquisar sobre práticas discursivas dos principais atores envolvidos neste processo.
Palavras-chave: Educação, infância, revisão de literatura.

3- Título: DIÁRIO DE BORDO IN BUST TEATRO COM BONECOS: a subjetividade na construção de personagens.
Autora: Anne Pina
Banca Examinadora: Flávia Lemos (orientadora); Psicóloga Adriana Macedo (avaliadora); Msc. Ana Carolina Franco (avaliadora).
Data: 21 de março de 2013 às 08h30. 
Local: Sala de Aula do Programa de Pós Graduação de Psicologia (PPGP), localizada no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Pará (UFPA).

domingo, 17 de março de 2013

DIGA NÃO AO PROJETO DE LEI QUE IRÁ MANDAR OS USUÁRIOS DE DROGAS PARA A CADEIA


PORQUE ISTO É IMPORTANTE:
PROJETO RUIM, ANTIQUADO E DESUMANO
O PL 7663/2010 representa um retrocesso em relação às conquistas e aos resultados positivos obtidos no campo do tratamento de saúde para usuários e dependentes de drogas.
AUMENTO DAS PENAS
O texto propõe o aumento das penas para porte de drogas para consumo próprio e tráfico. No primeiro caso, a pena varia de 6 a 12 meses. No segundo caso, a pena de reclusão pode variar de 8 anos a 20 anos (maior do que a pena por homicídio). No segundo caso, é negado ao acusado o direito a responder ao processo em liberdade, direito garantido também para crimes como homicídio, por exemplo, o que aumenta ainda mais o inchaço das terríveis cadeias brasileiras.
Além disso, o projeto também não define critérios claros para diferenciar usuário de traficante. Essa medida vai reforçar os efeitos negativos já produzidos pela atual legislação como lotar as cadeias de pessoas sem ligação com o crime organizado, algumas delas usuários de drogas, e que saem alguns anos depois diplomados nas chamadas universidade do crime.
As estatísticas do Departamento Penitenciário Nacional, em 20 anos, apontam que a população carcerária no Brasil aumentou 450%, grande parte em consequência das políticas repressivas contra as drogas, sem gerar qualquer efeito positivo como, por exemplo, diminuir a oferta e o consumo de drogas.
INTERNAÇÃO INVOLUNTÁRIA
O PL também prioriza as internações involuntárias como forma de tratamento aos dependentes de drogas e preconiza “programas de atenção que visam à abstinência”. Prevê a exclusão do usuário dos programas de reinserção caso haja suspeita de uso de drogas. Esta prática é totalmente desaprovada por especialistas pois as recaídas são muito comuns entre dependentes de drogas.
A experiência de outros países, de profissionais da área, as pesquisas e instrumentos internacionais de direitos humanos demonstram que o modelo baseado em internações involuntária e na abstinência é cara e funciona em menos de 5% dos casos, por isso foi abandonada na maioria dos países.
COMUNIDADES TERAPÊUTICAS SEM CONTROLE
O texto prevê ainda a criação de um sistema paralelo ao sus para atendimento de usuários, com internações prolongadas em comunidades terapêuticas religiosas.Nesta proposta, a política de saúde seria colocada em risco, uma vez que estes centros não estariam submetidos aos critérios mínimos estabelecidos pela política nacional de saúde, como a presença de médicos, psiquiatras, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais. O Conselho Federal de Psicologia e entidades de defesa de direitos humanos já denunciaram a falta de protocolos de tratamento para dependência e casos de maus tratos e torturas no país.
NOVA CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS
O PL estabelece uma nova classificação das drogas com base na sua capacidade de causar dependência. Na prática, significa que se alguém for pego com crack receberá uma pena muito maior de quem for pego com outra droga.
Essa política levou ao encarceramento em massa da população pobre e negra nos EUA na década de 1970 e não contribuiu para diminuir o consumo de crack, o que fez o governo americano abandonar essa estratégia. Além disso, a classificação não faz sentido, pois vários estudos indicam que a nicotina, presente nos cigarros legalmente comercializados, tem maior capacidade de gerar dependência do que a cocaína.
SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÃO
Cria um sistema de notificação de usuários de drogas, sem especificar a finalidade deste cadastro, medida que pode aprofundar o preconceito já sofrido por essa minoria.
ESCOLAS COMO LOCAL DE DESCONFIANÇA, NÃO DIÁLOGO E ACOLHIMENTO
o texto ainda prevê que os professores deverão denunciar alunos com suspeita de uso, inclusive para fins penais, mudando o caráter acolhedor da escola para um ambiente de desconfiança, o que afastará ainda mais o usuário da possibilidade de conseguir tratamento. Além disso, essa medida impossibilita estratégias de prevenção uma vez que para serem desenvolvidas é necessário um ambiente de cumplicidade, confiança, diálogo e troca entre os jovens e educadores.
REDUZINDO OS DANOS
A atual política de drogas brasileira causa muitos danos aos indivíduos e à sociedade. Apostar na sua continuidade é um erro! Ao invés de aprofundar a crise que já vivemos, tal esforço político deveria ser direcionado para apostar em novas estratégias como fez Portugal, Colômbia, Argentina e Uruguai que decidiram encarar a questão das drogas sob a ótica da saúde!
ASSINAM: REDE PENSE LIVRE - POR UMA POLÍTICA SOBRE DROGAS QUE FUNCIONE, INSTITUTO SOU DA PAZ, PASTORAL CARCERÁRIA, NÚCLEO DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES SOBRE PSICOATIVOS, IDDD (INSTITUTO DE DEFESA DO DIREITO DE DEFESA), CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL
ASSINE AGORA A PETIÇÃO E AJUDE A EVITAR A INSTITUCIONALIZAÇÃO DESSA GUERRA CONTRA AS PESSOAS. VAMOS NOS MOBILIZAR POR UMA POLÍTICA DE DROGAS MAIS HUMANA E QUE FUNCIONE PARA GARANTIR A SAÚDE E A SEGURANÇA PÚBLICA!



É SÓ CLICAR NO LINK ABAIXO E ASSINAR A PETIÇÃO:
http://www.avaaz.org/po/petition/DIGA_NAO_AO_PROJETO_DE_LEI_QUE_VAI_MANDAR_USUARIOS_DE_DROGAS_PARA_A_CADEIA/?pv=13

quinta-feira, 14 de março de 2013

Ato de Repúdio a Nomeação de PR Marcos Feliciano (PSC)


Convocamos todos para ato público em repúdio ao rapto da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Queremos Fora, Feliciano!

Traga seus cartazes, lutas e junte-se a nós neste domingo na Praça da República em frente ao Theatro da Paz.

Lembramos que este protesto é apartidário!

Local: Praça da República

Data: 17 de março (Domingo) 

Horário: 10h. 

Maiores informações: http://www.facebook.com/events/279062932228018/



Belém define Propostas para o Congresso Regional de Psicologia


Publicado em: http://crp10.org.br/


Psicólogas e psicólogos de Belém tem a oportunidade, no próximo dia 15, de participar com propostas da definição dos rumos da categoria para o próximos três anos. O Pré-Congresso de Belém será realizado no auditório da Computer Hall, das 14 às 20h e é promovido pelo Conselho Regional de Psicologia da 10ª região PA/AP.
Este é o último dos cinco Pré-Congressos que antecedem o VIII Congresso Regional de Psicoogia (COREP) e o VIII Congresso Nacional de Psicologia (CNP). A proposta era de que cada Pré-Congresso, bem como o Congresso Regional, apresente 10 propostas por eixo, totalizando o máximo de 30 propostas nacionais por CRP.
A definição do número de propostas permite discussões mais aprofundadas e qualificadas. Nos Pré-Congressos são eleitos delegados que participarão do Congresso Regional e apresentarão as propostas, e quando, por sua vez, serão selecionados representantes da região para o Congresso Nacional.
Além dos Pré-Congressos, foram realizadas Atividades Livres, nas quais psicólogas e psicólogos debateram temas mais específicos com colegas de áreas afins. Congresso Nacional – O CNP é o momento máximo de deliberação do Sistema Conselhos de Psicologia. É um espaço de discussão sobre os desafios e as perspectivas da profissão e das ações dos Conselhos de Psicologia. Se dá por meio de um amplo processo democrático, no qual são definidas as diretrizes e ações políticas que devem ser priorizadas nos próximos três anos (triênio 2013-2016).

quarta-feira, 13 de março de 2013

A Manutenção do Proibicionismo pela Mídia


Publicado em: http://culturaverde.org/

Com o processo de urbanização e modernização das sociedades a opinião pública passou a ser mediada pelos meios de comunicação e a mídia tornou-se uma importante ferramenta para seu controle. Não à toa, hoje, a mídia detém tanto poder que, conhecida como o 4º poder, tem no dono da TELMEX, empresa de telefonia transnacional radicada no México, o homem mais rico do mundo. 
A mídia cumpre um papel muito importante na manutenção da política proibicionista no Brasil. A televisão, o rádio e os jornais foram os principais responsáveis por instaurar o terror e o medo na sociedade no processo de invasão dos morros cariocas no final de 2010. Ao mesmo tempo, a grande mídia também cumpria o papel de encobrir os abusos cometidos pela polícia dentro das favelas e de ressaltar a boa relação desta com os moradores das comunidades.
Enfim, o proibicionismo é uma política que movimenta muito dinheiro, principalmente nos programas de guerra ao tráfico e por esse motivo é necessário que ele (o mercado ilegal) esteja sempre ali, existindo, ameaçando as pessoas ao mesmo tempo. Muitos interesses econômicos estão por trás da proibição e são estes mesmos interesses que movimentam a mídia de forma a tornar todo esse processo o mais lucrativo possível. Infelizmente, em um país onde a comunicação tem donos e seus donos tem preço, uma comunicação popular, voltada para o interesse social fica longe de nossas vistas e temos de nos deparar com a subserviência do empresariado ligado à mídia diante dos grandes detentores de poder do tráfico e do estado.

domingo, 10 de março de 2013

Pensar a educação depois de Foucault

Publicado em: www.revistacult.uol.com.br


Depois das análises de Michel Foucault, a escola nunca mais foi a mesma. A partir da história genealógica, a educação na sua modalidade escolarizada passou a ser considerada maquinaria destinada a disciplinar corpos em ação. Em Vigiar e punir, Foucault descreveu vários processos de disciplinarização dos corpos em diferentes instituições, como colégios, fábricas, oficinas, conventos e quartéis, demonstrando que a principal característica de tais instituições é a disciplina corporal. Dentre todas as instituições disciplinares, a escola possui a maior abrangência, pois é nela que os indivíduos passam a maior parte da sua formação, até que estejam prontos para a vida adulta. Por sua vez, a disciplina no interior da instituição educacional não se restringe ao corpo, pois ali também ocorre a submissão dos conhecimentos à disciplina institucional, isto é, a escolarização dos saberes. Ela consistiu numa operação histórica de organização, classificação, depuração e censura dos conhecimentos, de modo que a operação moralizadora não atingiu só os corpos, mas também os próprios conhecimentos a serem ensinados. A escola disciplinar não distingue entre corpo e conhecimento, praticando a moralização de ambos na medida em que seu objetivo é a produção do sujeito sujeitado.
O processo de disciplinarização dos corpos de crianças e jovens se encontra no centro das preocupações de Vigiar e punir. Ela ocorreu em locais arquitetonicamente preparados para aquele fim, isto é, locais cercados, quadriculados, com uma disposição espacial estudada e um mobiliário especialmente desenhado, sem falar na presença de especialistas preparados para a aplicação de exercícios para a mente e para o corpo. O nascimento da chamada escola disciplinar se deu em um período de intensas modificações nas estruturas de poder, as quais deram origem ao aparato social e político que Foucault denominou “sociedade disciplinar”. Em uma palavra, a genealogia foucaultiana nos ofereceu um importante modelo teórico para entender o surgimento não apenas da escola moderna, mas também da prisão, do hospital, do hospital psiquiátrico e da fábrica, instituições por excelência da modernidade.
Em um conjunto de conferências proferidas no Rio de Janeiro em 1973, posteriormente publicadas com o título de As verdades e as formas jurídicas, Foucault empreendeu uma abordagem muito particular sobre o poder, tema sobre o qual vinha desenvolvendo investigações desde sua aula inaugural no Collège de France, em 1970. Nestas conferências, Foucault demonstrou as transformações das relações de poder que deram origem a um tipo que se desenvolveu a partir do século 18, o poder disciplinar. Para Foucault, o poder disciplinar é fruto de transformações da sociedade europeia, mais precisamente, do deslocamento de um poder que estava concentrado nas mãos do Rei, para um corpo burocrático e institucional disseminado ao longo do tecido social. Segundo o autor, a partir de então, o poder se exerceria, preferencialmente, de maneira mais fluida, na forma de micropoderes ou de uma micropolítica. O poder disciplinar se exerce sobre os corpos individuais por meio de exercícios especialmente desenhados para a ampliação de suas forças. A despeito dos exercícios de adestramento dos corpos ocorrerem em espaços isolados e de maneira desordenada, gradativamente surgiu o conjunto das instituições disciplinares, cuja função foi a produção de corpos úteis e dóceis.
Normal e anormal
O processo de disciplinarização corresponde aos mecanismos de normatização, isto é, aos processos de nominação e separação entre o indivíduo ‘normal’ e o ‘anormal’. Esse processo de separação é fundamental em se tratando da produção do sujeito moderno, o sujeito normalizado. Todos os procedimentos disciplinares presentes no interior da instituição escolar, da arquitetura aos cadernos de classe, dos exercícios físicos aos exames, concorrem para a produção do sujeito normalizado. Para Foucault, a instituição escolar foi o lugar privilegiado das medidas higiênicas e alimentares destinadas a garantir a saúde física e moral de jovens e crianças. Instituição disciplinar, a escola se constituiu como local privilegiado da realização exaustiva de exercícios, exames, punições e recompensas centradas no corpo infantil.
As leis de obrigatoriedade escolar na Europa das últimas décadas do século 18 e primeiras do 19 tinham como objetivo capturar as crianças das ruas e colocá-las em um ambiente cerrado, aplicando-lhes exercícios disciplinares que visavam governar seus corpos e almas. A contrapartida dessa ação foi a imediata definição das crianças que escapavam àquela rede como potenciais causadoras da desordem social. Assim se estabeleceu por completo a configuração da escola primária como a forma de captura e governo da infância, a qual, por sua vez, repartia a infância entre normal e anormal, na justa medida em que os corpos e almas das crianças eram capturados e governados no interior das redes de escolarização ou dela escapavam. A educação, ao se transformar em uma forma de razão de Estado, acabou por configurar o Estado como um ente educador. A aliança entre Estado, pedagogia e medicina colocou todos os aspectos da vida das crianças em evidência no interior da escola e suas mínimas manifestações foram cuidadosamente escrutinadas: além das aulas, as brincadeiras de pátio, a merenda, as vacinas, os exercícios físicos, a higiene corporal, tudo foi tomado como campo de intervenção e produção de verdades sobre a infância, formando-se um sistema disciplinar no qual os exames corporais compuseram medidas centrais no processo de educação escolarizada. No contexto disciplinar, a higiene e a saúde destinavam-se à construção de uma população saudável; o civismo, à formação de uma população amante dos valores nacionais; ao passo em que o letramento destinava-se à produção de uma população de trabalhadores esclarecidos. Assim se configuraram os valores absolutos de todos os projetos nacionais de educação, os quais tomaram a infância como objeto de suas práticas de conformação visando à produção de uma população adulta viável, previamente preparada para as formas de governamento centradas na gestão do trabalho, da família e da saúde.
Fim da disciplina na escola?
Quando hoje se acena para o fim dos sujeitos escolares, isto é, para o fim da infância e para a morte da adolescência, o foco do argumento é que as práticas e os discursos que constituíram tais sujeitos no âmbito dos processos da escolarização disciplinadora da modernidade entraram em crise e deixaram de produzir tais sujeitos. O próprio Foucault já observara os limites históricos da sociedade disciplinar nos últimos anos da década de 1970. Os próprios conceitos de biopolítica e de governamentalidade neoliberal, fruto de suas pesquisas no final da década de setenta, já apontavam que as transformações pelas quais o Estado começava a passar em função da crescente autonomização do mercado econômico acabariam por levar à produção de novos sujeitos.
Seguindo as pegadas de Foucault, Gilles Deleuze compreendeu a crise da sociedade disciplinar como uma crise dos modos de confinamento centrados na prisão, no hospital, na fábrica, na escola e na família. Para Deleuze, se os confinamentos da disciplina eram moldes produtores de subjetividades, os novos controles são uma modulação, isto é, uma moldagem que pode ser transformada continuamente de maneira a produzir a subjetividade flexível como chave do controle. As antigas instituições se transformaram em empresas, modificando a gramática que havia sido produzida pela velha sintaxe disciplinar.
A passagem da sociedade disciplinar para a sociedade de controle permite entender as mudanças pelas quais a instituição escolar vem passando desde a última década a fim de tornar-se a instância de produção do novo sujeito moral, o sujeito flexível, tolerante e supostamente autônomo, requerido pelas novas modulações do controle que gravitam entre o Estado e o mercado neoliberal. Nesse processo, tornaram-se decisivas novas tecnologias informacionais, nutricionais, educativas e físicas, as quais se destinam a ampliar as capacidades corporais e cognitivas dos indivíduos, que devem se tornar empreendedores de si mesmos. Como nos mostram as análises de Nascimento da biopolítica, de 1979, o novo sujeito que está a ponto de substituir o sujeito disciplinado da modernidade será o produto de novas técnicas de controle e governamento neoliberal. Trata-se agora de produzir um sujeito capaz de responder às demandas flexíveis do mercado, objetivo que orienta obsessivamente os investimentos familiares e as intervenções governamentais do Estado sobre o campo da saúde e do corpo das populações, todas elas visando fomentar a atitude autoempreendedora capaz de produzir o “capital humano” exigido pelos tempos que correm.

quinta-feira, 7 de março de 2013

CFP promove debate online sobre a imagem da mulher na mídia


Publicado em: http://site.cfp.org.br


Evento será transmitido online na sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, às 19 horas.

“Mulher na Mídia: Subjetividade e Cidadania” é o tema do debate online que acontece na próxima sexta-feira (8/3), Dia Internacional da Mulher. O evento é uma promoção do Conselho Federal de Psicologia (CFP), e tem como objetivo discutir a presença feminina nos meios de comunicação social e a produção da subjetividade. A transmissão será feita pelo site do CFP, a partir das 19 horas.
O debate abordará os efeitos que a mídia produz em relação ao padrão estético e ético feminino. A coordenação do debate será feita pela conselheira do CFP, Roseli Goffman, com a presença de Rachel Moreno, do Observatório da Mulher e Articulação Mulher e Mídia, Juliano Carvalho, coordenador do programa de pós-graduação em Televisão Digital: Informação e Conhecimento da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Julciane Anzilago, da direção nacional do Movimento das Mulheres Camponesas do Brasil do Estado de Goiás.
Segundo Roseli Goffman, que coordenará os trabalhos, a mídia brasileira gera cotidianamente uma violência simbólica contra o público feminino, criando uma realidade artificial, usando o entretenimento para eleger alguns modelos de comportamento em detrimento de outros, mais diversos e plurais.
Em contrapartida, esse tipo de abordagem na mídia tem gerado outros efeitos, provocando as mulheres a protestarem contra os padrões estéticos e comportamentais instituídos. “Hoje em dia temos várias manifestações sociais para que esse cenário mude, a exemplo da Marcha das Vadias e da atuação do movimento de mulheres junto ao Ministério Público”, destaca Roseli.
Violência contra a mulher
O Mapa da Violência, publicado em 2012, pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela) e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), aponta que mais de 92 mil mulheres foram assassinadas no país entre os anos de 1980 e 2010. Durante o período, o número de assassinatos de mulheres subiu mais de três vezes, saltando de 1.353 casos para 4.465. A tendência, segundo especialistas, se manteve nos últimos dois anos.
Em 2011, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, registrou 70.270 atendimentos a mulheres vítimas da violência. A maioria delas tinha entre 15 e 29 anos e foi agredida por maridos ou namorados.
Com base nesse contexto, o debate também questionará a responsabilidade ética da mídia com estes números impressionantes.

Experimentações críticas no campo das lutas por direitos: relato de uma jovem estudante

Formação política, trabalho coletivo e valioso intercâmbio crítico foram vetores de subjetivação de jovens estudantes, nos dias de 7 a 17 de fevereiro, de 2013, em que, junto a 50 estagiários, nos propusemos a viver a experiência do 4º Estágio Interdisciplinar de Vivência do Pará. Ocorrido no Centro de Estudos e Formação em Agroecologia e Cultura Cabana – CEFAC, localizado no assentamento de reforma agrária Luis Carlos Prestes, município de Irituia – PA, o momento contou com estudantes dos cursos de Agronomia, Engenharia Florestal, Biologia, Farmácia, Enfermagem, Psicologia, Direito, Pedagogia, Ciências Sociais, Zootecnia, Medicina Veterinária, estudantes secundaristas e jovens atuantes nos movimentos sociais. Entre os municípios representados estavam Altamira, Brasil Novo, Belém, Bragança, Barcarena, Marabá, Parauapebas, Capanema, também os Estados do Ceará, Bahia e Rio de Janeiro, e, ainda, o país da Colômbia. Temas como Direitos Humanos, Contexto Agrário Brasileiro e Movimentos Sociais foram pensados e debatidos de modo associado à formação nas áreas representadas pelos estudantes. Um ponto de encontro que serve para realizar trocas e agregar importantes elementos na prática cotidiana dos jovens que, puderam retornar desta experiência com outros olhares e interrogantes, na medida em que puderam conhecer as condições de existência e maneiras de agir e lutar de movimentos sociais que vivem, no Sudeste do Pará. 

Autoria de Luzia Souza 
Estudante do 4 semestre de Psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA)- 2013