Grupo Transversalizando
Relato do encontro do dia 10/09/2013
Texto discutido: O currículo e seus três adversários: os funcionários da verdade, os técnicos do desejo, o fascismo (Alfredo Veiga-Neto).
No início da reunião foram dados alguns avisos:
1 – Franco avisou que está aberto o doutorado em educação e a confirmação do doutorado em psicologia.
2 – Dia 05/10 haverá um debate sobre racismo na SDDH.
Debate do texto:
Ana Carolina foi a comentadora e iniciou falando sobre o texto, localizando-o no livro Para uma vida não fascista como resultado da fala de Veiga-Neto no V Colóquio Internacional Michel Foucault. O autor lançou mão do texto de Foucault Introdução a uma vida não fascista, o prefácio que ele escrevera para o livro O Anti-Édipo de Gilles Deleuze e Félix Guattari. Ele busca identificar quem são os três adversários que Foucault encontro n’ O Anti-Édipo e daí traçar um paralelo entre os considerados adversários do currículo. O Anti-Édipo pode ser considerado um livro que busca um contraponto ao marxismo e a psicanálise; seus três adversários são os teóricos e militantes marxistas, os psicanalistas e o fascismo em seus vários aspectos. Foucault compreende o fascismo como um fenômeno não somente restrito ao Estado ou uma ideia individual, mas, assim como sua noção de poder, o considera presente nas relações e, dessa forma, propõe uma ética que venha a questionar o quanto cada um de nós é fascista; propõe uma desindividualização do indivíduo produzido pelo poder. Há uma evidente crítica aos modelos de pensamento estruturalistas da época, à psicanálise e à suposta linearidade presente na passagem pelo “completo de Édipo”. Foucault chama atenção ao “perigos do poder” e à tomada revolucionária também como uma meio de se seduzir pelo poder; critica a ontologia da verdade e ressalta que o livro O Anti-Édipo não deve ser tomado como uma teoria acabada, justamente para prevenir essas formas de poder.
Segundo Veiga-Neto, etimologicamente, o significado central de Currículo é “caminho”, uma determinada trajetória percorrida ou a se percorrer. No entanto, a partir do século XVII o Currículo passa a ser tomado como um artefato para controlar a vida escolar dos estudantes e profissionais e impor novas formas de disciplinarização, para produzir corpos úteis e dóceis no interior de uma sociedade disciplinar. Apesar de trazer benefícios, o currículo enquanto trajetória de vida (no caso acadêmica) controla e produz indivíduos, ou seja: se torna um instrumento de sujeição. Vilma entrou no debate e colocou que o currículo, enquanto dispositivo de captura, torna-se um instrumento de seleção, em que a pessoa passa a geri-lo de tal forma que nele conste seus aspectos mais positivos, no entanto, é também uma forma de medir a eficiência de estudantes, pesquisadores, professores, etc. através do controle de produtividade, da exigência de titulação, etc. Há uma espetacularização e mercantilização do currículo, este passa a ser a identidade do indivíduo e se torna um “objeto a ser vendido”. Franco também interviu e situou o currículo enquanto um produtor de subjetividades e disciplinarizador do comportamento de professores através de um esquadrinhamento dos Programas, publicações. Ou seja, há estratégias de montagem do currículo nas quais se evidencia a produtividade e circularidade do poder presente nas relações.
Muitas críticas foram feitas ao currículo escolar enquanto grade de disciplinas, de forma fragmentaria e que se propõe a ser transdisciplinar, porém não alcança este objetivo ao se chocar com interesses mercadológicos e políticos. Dessa forma, conforme o debate em grupo, evidenciou-se a necessidade de um estranhamente e tencionamento do dispositivo curricular, levando-se em conta as possibilidades e potências que o mesmo têm desde que formado através do debate com aqueles que serão por ele diretamente afetados. Finalmente, pode-se empreender uma crítica ao currículo programação e ao currículo trajetória de vida, de tal forma que se possam vencer seus três adversários: os funcionários de verdade, os técnicos do desejo e o fascismo, “o fascismo que nos faz amar o poder”.
Participantes presentes:
- Rafaelle Habib Souza Aquime
- Evelyn Ferreira
- Abraão de Melo Junior
- Ana Carolina Farias Franco
- Thais de Souza Nogueira
- Fernanda Teixeira Neta
- Joyce Danielle Fonseca
- Adriana Moraes
- Franco Farias da Cruz
- Robert Damasceno Rodrigues
- Igor do Carmo Santos
- Maria de Fátima Monteiro
- Gustavo Ferreira de Queiroz
- Drilene Vieira
- Vilma Nonato de Brício
- Sandra Karina Mendes
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