domingo, 10 de março de 2013

Pensar a educação depois de Foucault

Publicado em: www.revistacult.uol.com.br


Depois das análises de Michel Foucault, a escola nunca mais foi a mesma. A partir da história genealógica, a educação na sua modalidade escolarizada passou a ser considerada maquinaria destinada a disciplinar corpos em ação. Em Vigiar e punir, Foucault descreveu vários processos de disciplinarização dos corpos em diferentes instituições, como colégios, fábricas, oficinas, conventos e quartéis, demonstrando que a principal característica de tais instituições é a disciplina corporal. Dentre todas as instituições disciplinares, a escola possui a maior abrangência, pois é nela que os indivíduos passam a maior parte da sua formação, até que estejam prontos para a vida adulta. Por sua vez, a disciplina no interior da instituição educacional não se restringe ao corpo, pois ali também ocorre a submissão dos conhecimentos à disciplina institucional, isto é, a escolarização dos saberes. Ela consistiu numa operação histórica de organização, classificação, depuração e censura dos conhecimentos, de modo que a operação moralizadora não atingiu só os corpos, mas também os próprios conhecimentos a serem ensinados. A escola disciplinar não distingue entre corpo e conhecimento, praticando a moralização de ambos na medida em que seu objetivo é a produção do sujeito sujeitado.
O processo de disciplinarização dos corpos de crianças e jovens se encontra no centro das preocupações de Vigiar e punir. Ela ocorreu em locais arquitetonicamente preparados para aquele fim, isto é, locais cercados, quadriculados, com uma disposição espacial estudada e um mobiliário especialmente desenhado, sem falar na presença de especialistas preparados para a aplicação de exercícios para a mente e para o corpo. O nascimento da chamada escola disciplinar se deu em um período de intensas modificações nas estruturas de poder, as quais deram origem ao aparato social e político que Foucault denominou “sociedade disciplinar”. Em uma palavra, a genealogia foucaultiana nos ofereceu um importante modelo teórico para entender o surgimento não apenas da escola moderna, mas também da prisão, do hospital, do hospital psiquiátrico e da fábrica, instituições por excelência da modernidade.
Em um conjunto de conferências proferidas no Rio de Janeiro em 1973, posteriormente publicadas com o título de As verdades e as formas jurídicas, Foucault empreendeu uma abordagem muito particular sobre o poder, tema sobre o qual vinha desenvolvendo investigações desde sua aula inaugural no Collège de France, em 1970. Nestas conferências, Foucault demonstrou as transformações das relações de poder que deram origem a um tipo que se desenvolveu a partir do século 18, o poder disciplinar. Para Foucault, o poder disciplinar é fruto de transformações da sociedade europeia, mais precisamente, do deslocamento de um poder que estava concentrado nas mãos do Rei, para um corpo burocrático e institucional disseminado ao longo do tecido social. Segundo o autor, a partir de então, o poder se exerceria, preferencialmente, de maneira mais fluida, na forma de micropoderes ou de uma micropolítica. O poder disciplinar se exerce sobre os corpos individuais por meio de exercícios especialmente desenhados para a ampliação de suas forças. A despeito dos exercícios de adestramento dos corpos ocorrerem em espaços isolados e de maneira desordenada, gradativamente surgiu o conjunto das instituições disciplinares, cuja função foi a produção de corpos úteis e dóceis.
Normal e anormal
O processo de disciplinarização corresponde aos mecanismos de normatização, isto é, aos processos de nominação e separação entre o indivíduo ‘normal’ e o ‘anormal’. Esse processo de separação é fundamental em se tratando da produção do sujeito moderno, o sujeito normalizado. Todos os procedimentos disciplinares presentes no interior da instituição escolar, da arquitetura aos cadernos de classe, dos exercícios físicos aos exames, concorrem para a produção do sujeito normalizado. Para Foucault, a instituição escolar foi o lugar privilegiado das medidas higiênicas e alimentares destinadas a garantir a saúde física e moral de jovens e crianças. Instituição disciplinar, a escola se constituiu como local privilegiado da realização exaustiva de exercícios, exames, punições e recompensas centradas no corpo infantil.
As leis de obrigatoriedade escolar na Europa das últimas décadas do século 18 e primeiras do 19 tinham como objetivo capturar as crianças das ruas e colocá-las em um ambiente cerrado, aplicando-lhes exercícios disciplinares que visavam governar seus corpos e almas. A contrapartida dessa ação foi a imediata definição das crianças que escapavam àquela rede como potenciais causadoras da desordem social. Assim se estabeleceu por completo a configuração da escola primária como a forma de captura e governo da infância, a qual, por sua vez, repartia a infância entre normal e anormal, na justa medida em que os corpos e almas das crianças eram capturados e governados no interior das redes de escolarização ou dela escapavam. A educação, ao se transformar em uma forma de razão de Estado, acabou por configurar o Estado como um ente educador. A aliança entre Estado, pedagogia e medicina colocou todos os aspectos da vida das crianças em evidência no interior da escola e suas mínimas manifestações foram cuidadosamente escrutinadas: além das aulas, as brincadeiras de pátio, a merenda, as vacinas, os exercícios físicos, a higiene corporal, tudo foi tomado como campo de intervenção e produção de verdades sobre a infância, formando-se um sistema disciplinar no qual os exames corporais compuseram medidas centrais no processo de educação escolarizada. No contexto disciplinar, a higiene e a saúde destinavam-se à construção de uma população saudável; o civismo, à formação de uma população amante dos valores nacionais; ao passo em que o letramento destinava-se à produção de uma população de trabalhadores esclarecidos. Assim se configuraram os valores absolutos de todos os projetos nacionais de educação, os quais tomaram a infância como objeto de suas práticas de conformação visando à produção de uma população adulta viável, previamente preparada para as formas de governamento centradas na gestão do trabalho, da família e da saúde.
Fim da disciplina na escola?
Quando hoje se acena para o fim dos sujeitos escolares, isto é, para o fim da infância e para a morte da adolescência, o foco do argumento é que as práticas e os discursos que constituíram tais sujeitos no âmbito dos processos da escolarização disciplinadora da modernidade entraram em crise e deixaram de produzir tais sujeitos. O próprio Foucault já observara os limites históricos da sociedade disciplinar nos últimos anos da década de 1970. Os próprios conceitos de biopolítica e de governamentalidade neoliberal, fruto de suas pesquisas no final da década de setenta, já apontavam que as transformações pelas quais o Estado começava a passar em função da crescente autonomização do mercado econômico acabariam por levar à produção de novos sujeitos.
Seguindo as pegadas de Foucault, Gilles Deleuze compreendeu a crise da sociedade disciplinar como uma crise dos modos de confinamento centrados na prisão, no hospital, na fábrica, na escola e na família. Para Deleuze, se os confinamentos da disciplina eram moldes produtores de subjetividades, os novos controles são uma modulação, isto é, uma moldagem que pode ser transformada continuamente de maneira a produzir a subjetividade flexível como chave do controle. As antigas instituições se transformaram em empresas, modificando a gramática que havia sido produzida pela velha sintaxe disciplinar.
A passagem da sociedade disciplinar para a sociedade de controle permite entender as mudanças pelas quais a instituição escolar vem passando desde a última década a fim de tornar-se a instância de produção do novo sujeito moral, o sujeito flexível, tolerante e supostamente autônomo, requerido pelas novas modulações do controle que gravitam entre o Estado e o mercado neoliberal. Nesse processo, tornaram-se decisivas novas tecnologias informacionais, nutricionais, educativas e físicas, as quais se destinam a ampliar as capacidades corporais e cognitivas dos indivíduos, que devem se tornar empreendedores de si mesmos. Como nos mostram as análises de Nascimento da biopolítica, de 1979, o novo sujeito que está a ponto de substituir o sujeito disciplinado da modernidade será o produto de novas técnicas de controle e governamento neoliberal. Trata-se agora de produzir um sujeito capaz de responder às demandas flexíveis do mercado, objetivo que orienta obsessivamente os investimentos familiares e as intervenções governamentais do Estado sobre o campo da saúde e do corpo das populações, todas elas visando fomentar a atitude autoempreendedora capaz de produzir o “capital humano” exigido pelos tempos que correm.

18 comentários:

  1. O olhar lançado sobre o jovem ainda é aquele que o percebe como maquina do sistema, que pode ser manejada e destinada a determinado fim. Assim, educar de uma maneira que o ser torne-se ser-pensante, livre, com capacidade de abstração suficiente para entender o meio que está inserido e porquê nele, formando subjetivação, em detrimento do trabalhador esclarecido, adestrado, modulado, com a devida licença, parece-me ser duas faces de uma mesma moeda. Parece que tudo gira em torno do capital, seja para produzir massa, seja pra produzir empreendedores liberais.

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  2. Recorro aos conceitos de significante e significado para pensar sobre este tema. O controle dos corpos colocado por Foucault e os "micromecanismos" que regem esse controle serão mais eficientes na medida em que a falta de consciência, de percepção desses mecânismos por parte do sujeito seja maior. A compreensão crítica mínima tornará o sujeito menos suscetível a este controle, tomando para si os significantes nos quais ponha seus valores que vem de uma formação implicada e consciente. Porém, penso ser utopia estar alheio a todas as formas de influência as quais somos expostos. Talvez a saída seja não ser ignorante nessa ambiguidade dramática.

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  3. Os mecanismos de normatização que o sujeito recebe desde seus primeiros anos de vida no ambiente escolar mostram claramente que tipo de cidadão se pretende formar. Incentivar um pensamento mais crítico, para que se forme um indivíduo que tenha consiência de sua identidade e importância social se mostra necessário.

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  4. Mas não são esses os esforços que temos visto de alguns? "Incentivar um pensamento mais crítico"? E a despeito disso, ainda falamos de coisas óbvias, e comentamos essas coisas com a mesma obviedade. E muito além disso: sujeitamo-nos! Adianta falar incentivando a "não-normalização" quando somos subjugados por ela, e o que é pior, quando nem sabemos o que isso significa, ou como se instaura? Gosto das análises de Foucault porque são históricas. Mas os processos analisados são tão históricos como são naturais, porque o ser humano é natural. Normalização, normatização, julgamento... são coisas naturais - embora nem por isso aprovadas ou aprováveis (e, por favor, não me pensem como um entusiasta desses processos, ou de outros menos aceitáveis), mas enquanto houver pluralidade de pensamentos, haverá normalização. Pensem: tornamos, aos poucos, a sociedade mais crítica, e assim excluímos - automaticamente, diga-se - os que não consideramos críticos. E então haverá conflitos. A única maneira que há para a "não normalização" é a aceitação incondicional de todos por todos - e, vejam! Instituímos, assim, outra normalidade. Claro, isso tudo depende de objetivos, e alguns me parecem muito mais louváveis do que outros. E aqui, o exemplo de Rogers.
    Mas o que eu quero dizer com isso tudo é que me parece que sempre haverá um "normal". Só temos que escolher (e aceitar as consequências da escolha, ou mudá-la) o "normal" que queremos.

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  5. Foucalt em relação nós faz refletir sobre os metodos utilizados nas escolas e acerca desse metodos que fazem da escola uma "fabrica de corpos docés".
    Um fato recente e acerca da instalação de câmeras nas salas de aula. Um tema bastante discutidom de um lado apoiado por alguns e por outros algo questionavel e repudiavel. Pois com o intuito de transmitir segurança, acaba inibindo o aluno e sendo uma nova forma de controle

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  6. A produção desse sujeito sujeitado ao qual Foucault se refere me faz pensar na sociedade passiva e tolerante demais na qual vivemos, nos submetemos às mais absurdas situações e a alienação nos guia ao triste caminho do conformismo e da aceitação. Esses mecanismos de controle que buscam "disciplinar" os sujeitos pelo viés da educação adquirem cada vez mais possibilidades sutis de serem imprimidos, promovendo a perpetuação desse círculo. A capacidade crítica carece ser instigada nesse sujeito para que se quebre a continuidade dessa sujeição alienada e passiva aos moldes ditados pelos "senhores feudais".

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  7. Acrescentando à discussão: a educação, como um direito humano, deveria ser o instrumento que levaria o sujeito ao acesso a qualquer tipo de discurso, aos inúmeros discursos que circulam em nossa sociedade. Mas sabemos que as oposições e lutas sociais aparecem, não disfarçadamente, nas diversas limitações que vivemos em relação aos currículos defasadas, à preponderância de algumas teorias em relação às outras em todos os nossos níveis de ensino. E ainda sim, podemos lembrar Foucault, no livro a Ordem do Discurso, quando se questiona: "O que é afinal um sistema de ensino senão uma qualificação e uma fixação dos papéis para os sujeitos que falam; senão a constituição de um grupo doutrinário ao menos difuso; senão uma apropriação do discurso com seus poderes e seus saberes? Todo sistema de educação é uma maneira política de manter ou modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e poderes que eles trazem consigo". Lutar ativamente pela democratização do ensino, pela generalização dos discursos na formação, é um dever de todos nós.

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  8. Pensar em Foucault é pensar em problematização, inquietação, e desnaturalizar as coisas e sair da posição ingênua de que as coisas são como são. Acho que a liberdade é super relativa, até por que nós nos auto-vigiamos. Ficamos à todo momento com medo de pensar algo que não era para aquele momento, temos medo de estar fora da realidade e entre outras coisas. Podemos problematizar isso com os hospitais psiquiàticos e a luta antimanicomial, entendendo que, não adianta o indivíduo (paciente, trabalhador e outros) sairem do hospital psiquiátrico pois, a prática já está internalizada nas pessoas, já está subjetivado. A sociedade de controle também é isso, é um controle que está além do espaço físico. Claro que há uma dimensão de cuidado, cuidado no espaço, tomando como exemplo a sala de aula, o uniforme, os horários, a lista de chamada, além de controle, há cuidado, para saber quem foi na aula, aonde esse aluno está, a que horas ele estará aonde. Mas é preciso se perguntar, a serviço de quem e de que esse cuidado atua. O que essa sociedade produz e reproduz ao controlar esses corpos? Por que há tantas pessoas com fobias de espaços fechados, ou que precisam se expor? precisam ser olhadas e cuidadas? É esta dentre muitas problematizações que precisamos fazer.

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  9. Somado ao fato de grande parte dos indivíduos não terem acesso a educação, os que tem acesso estão inseridos em um contexto de vigilância e de adestramento do corpo e da mente. É perceptível que vivenciamos uma educação de baixa qualidade, onde não há preocupação de se formar pessoas que possam questionar a realidade em sua volta, pelo contrário, muitos métodos educacionais são desenvolvidos com o fim de se reproduzir discursos que não violem a ordem estabelecida,mas sim que a ratifique, sendo poucos os que se preocupam com uma formação que questione as relações de saber poder.

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  10. Controlar os indivíduos e construir subjetividades são ambições que o Estado mantém incessantemente. A disseminação da tortura controladora é introjetada no sujeito muitas vezes de forma alienadora. A manipulação estatal se reconfigura ao longo da história, visto que, podemos considerar que o “aprisionamento” hoje não é o do corpo e se o da “alma”, isto é, a dominação passa a ser efetuada na consciência do indivíduo, controlando sua criticidade e o adquirir do conhecimento conforme as conveniências do Estado, e o maior perigo é a acomodação do sujeito mediante a essa problemática. Devemos forma sujeito capacitados a discutirem sobre as questões da realidade em sua volta de forma que a alienação não seja mais sobre eles, estimulando a inquietação, exterminando a ingenuidade mórbida que nos impede na busca do verdadeiro bem estar social.

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  11. A análise de Foucault relacionada a sociedade disciplinar, o interesse do Estado na disciplina dos indivíduos e o papel "modelador" das instituições dentro dessa sociedade põe em debate os reais objetivos dessa sociedade disciplinar e o papel das instituições perante o cenário moderno. Desde criança, os cidadãos eram moldados, em espaços destinados a isso, como as escolas, prisões, hospitais e hospitais psiquiátricos, para que se tornassem cidadãos dóceis e submissos ao regime governamental.
    Mesmo ainda havendo a forte prevalência de algumas características dessa ótica, concordo que a atual fase social deve ser caracterizada pela sociedade do controle, visto que este controle não é exercido apenas dentro de um espaço disciplinar, mas encontra-se presente nas relações mais singulares, como família, amigos, nas regras que regem a sociedade, no mercado de trabalho e no Estado.
    Um exemplo é que, na sociedade atual, as empresas até investem em máquinas, mas investem mais ainda no próprio ser humano. Só que não é em qualquer um: elas buscam pessoas empreendedoras, comunicativas, com alta e múltiplas habilidades, com poder de persuasão, de comunicação, articulados, que estejam bem informados e acompanhem as mudanças tecnológicas e sociais.
    O homem deixou de ser comparado/tratado apenas como máquina para ser visto como uma "ferramenta multifacetada de possibilidades".

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  12. No que se refere ao controle dos corpos no espaço, percebe-se que, na análise de Foucault, este controle vai além dos espaços reais, físicos, sendo um controle também de formas de pensar, de sentir que, para cada sociedade, se estabelecem de formas diferentes também pela cultura. Por isso, é necessário se perguntar qual a função desse controle, mas também entender que ele é necessário na medida em que vivemos em sociedade e, para isso, precisamos de limites e possibilidades.

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  14. Participei recentemente do programa Mais Educação, em uma escola de Belém, e pude presenciar como é forte a noção de o aluno deve "cumprir as regras da escola". Eram constantes as reclamações de alguns professores, afirmando que "os alunos não querem saber de nada", que são "bardeneiros", que "a família é ausente". Era notório como estes professores se colocavam na condição de autoridade controladora, que deveria ser obedecida não importasse as circunstâncias.

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  15. Foucault coloca em análise vários espaço que julga ser de controle dos corpos através da vigilância dos mesmos. O espaço da escola disciplinadora é um exemplo bem evidente dessa análise. A organização das carteiras dos alunos de frente à mesa do professor, para que este tenha uma visão privilegiada de toda a sala e portanto consiga exercer sua vigília é uma prova do poder. Além disso, o professor tem a autoridade de aplicar punições aos alunos se estes não o obedecerem, mas não qualquer punição, são punições disciplinadoras. Assim, tornando o espaço escolar disciplinado, através da vigilância e punição. É importante ressaltar que essa ação disciplinadora não ocorre apenas nas escolas, elas são um exemplo mais marcante, mas a sociedade em si exerce esse papel, onde todos se vigiam, se punem e por isso devem ser disciplinados.

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  16. Foucault analisa as diversas formas de controle em inúmeros espaços, que não se limitam apenas aos espaços físicos, indo além dos espaços reais, referindo-se também ao controle das formas de pensar, de sentir, agir. Sabe-se porém que este controle varia de acordo com a cultura, tempo e a sociedade que o sujeito está inserido.
    De maneira geral, Foucault debate sobre a sociedade disciplinar e o interesse do Estado, principalmente na manutenção da disciplina dos sujeitos. Percebe-se então um papel modelador das instituições, principalmente de ensino, tendo como objetivo "moldar" os sujeitos, desde crianças para que se tornassem cidadãos dóceis e de certa forma submissos ao regime social, político presente.

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  17. O submetimento e o adestramento para a transformação de corpos dóceis a fim de propagar a ordem, tanto debatido por Foucault, são o palco exato de nossas escolas. A escola é conhecida como a instituição em que o indivíduo em formação deva ser aperfeiçoado para a sociedade. Ser disciplinado de acordo com os moldes “ideais”. Até o papel de hierarquização desempenhada não só pela figura do professor mas também pelo lugar que ele ocupa na própria disposição das salas de aula mostra como a disciplina é ainda pilar nas escolas. Foucault realmente nos abre os olhos para ver, desnaturalizar, aquilo que sempre se mostrou tão natural.

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  18. A sociedade disciplinar pode até estar se esgotando, mas alguns de seus discursos continuam a ser repetidos, como o da criança ou adolescente que deve estar dentro do muro da escola, para não se envolver com tráfico, a prostituição, etc. Esse é um discurso corriqueiro, e que tem um público certo: as partes mais pobres da sociedade. Talvez com o intuito de fortalecer um certo "status quo" de um determinado modo de produção, ou com o objetivo de disseminar um certo discurso sobre certos grupos, essa "verdade" se insere em um âmbito muito maior. Formas de pensamentos como esse colaboram para a "criminalização" da juventude pobre.
    Quando se quer os jovens estejam dentro dos muros da escola, nunca se pergunta se essa escola tem capacidade física para colaborar na formação do mesmo, ou se esse sistema age realmente para o que o jovem tenha condições de conquistar melhores condições financeiras futuras. A escola, para conseguir ter uma função libertadora, deve deixar de lado o discurso da eliminação dos possíveis delinquentes, e se transformar em mais um instrumento de mudança social.

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