sábado, 23 de março de 2013

É assim que se faz uma Copa do Mundo?



Nesta sexta-feira, o Batalhão de Choque da Polícia Militar invadiu a Aldeia Maracanã, antigo Museu do Índio, e agiu com extraordinária truculência. Os policiais  jogaram bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo, gás pimenta, bateram nos manifestantes e prenderam ativistas e estudantes. A Aldeia estava ocupada desde o ano de 2006 por grupos representativos de diferentes nações indígenas que, nos últimos tempos, diante do projeto de demolição do prédio (para aumentar a área de dispersão do Estádio do Maracanã, estacionamento e shopping), vinham resistindo.
As lideranças indígenas são apoiadas por diversos movimentos sociais, estudantes, pesquisadores, universidades, comitês populares, organizações nacionais e internacionais de defesa dos Direitos Humanos, redes internacionais e outras organizações da sociedade civil. A luta dos índios e o conflito estabelecido entre o governo e o movimento resultaram num importante recuo do governo, que diante da pressão social desistiu da demolição do prédio e passou a defender a sua “preservação”. A desocupação do prédio foi decretada, com hora marcada. Os índios, no entanto, continuaram a resistir, apoiados por diversas organizações.
Certamente essa posição política ensina muito mais aos cidadãos cariocas e ao mundo sobre preservação, direitos e cidades do que as violentas ações que vêm sendo mostradas nos diversos meios. Para os índios e para as organizações sociais que os apoiam, preservar o prédio vai muito além de preservar sua materialidade. A essência da preservação, neste caso como em muitos outros, está na preservação das relações sociais, usos e apropriações que lhe dão sentido e conteúdo. Seria um exemplo para o Brasil e para o mundo a preservação da Aldeia Maracanã, o reconhecimento de seu uso social e a pactuação democrática acerca da reabilitação arquitetônica do edifício.
Cada vez que se comete um ato de violência que coloca em risco a integridade de um grupo social indígena, se esfacela sua cultura, seu modo de vida, suas possibilidades de expressão. É uma porta que se fecha para o conhecimento da humanidade, como dizia Levi-Strauss. É essa a Copa do Mundo que o governo quer fazer? É esse espetáculo da violência, a lição civilizatória que o Rio de Janeiro tem para mostrar ao mundo? A política-espetáculo tem um efeito simbólico: mostrar que o avanço do projeto de cidade, rumo aos megaeventos esportivos, far-se-á a qualquer custo.
Direitos humanos, democracia e pactuação estão fora da agenda deste projeto de cidade. Os manifestantes, em absoluta condição de desigualdade frente à força policial e seu aparato de violência, lançaram mão de instrumentos bem diferentes daqueles utilizados pelo Batalhão de Choque: ocuparam o prédio para apoiar os índios, resistiram à sua desocupação e manifestaram, no espaço público, nas ruas e avenidas do entorno do complexo do Maracanã, sua reprovação e indignação frente à marcha violenta desta política.
Autoria: Fernanda Sánchez, professora da UFF e pesquisadora sobre megaeventos e as cidades.


37 comentários:

  1. A valorização de eventos como a Copa do Mundo, ao meu ver, é só mais uma exposição do quanto o Capital domina o Estado, e não ao contrário, como deveria ser. Tenho muita aversão a qualquer política do "pão e circo", é como enxergo os "grandes eventos futebolísticos"

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  2. É triste que o Poder Público tenha atingido esse extremo, ou seja, supervalorizar estes grandes eventos em detrimento do respeito de preceitos básicos de um Estado Democrático de Direito (direitos humanos, paz, respeito das minorias...), esses fatos só demonstram que em uma escala de importância o lucro e o desenvolvimento a qualquer custo sempre estarão acima da integridade do povo indígena, que historicamente sofre com os "ataques civilizatórios" do homem branco,sendo colocado sempre em posição de inferioridade, como se não fossem dignos de respeito.

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  3. Concordo com a Denise. Acredito que cultura da valorização excessiva do futebol é um dos maiores problemas do país, e enquanto não aprendermos a organizar prioridades, nunca deixaremos de ser um país com sérios problemas sociais

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  4. O Brasil, querendo "fazer bonito" diantes dos olhares internacinais, cada vez mais vem adotando medidas drasticas que desconsideram a integridade humana.
    Dizem que esses eventos trarão avanço para o país, mas serão avanços para quem? Para os que possuem dinheiro para investir? E os que não tem, serã "marginalizados" e empurrados cada vez mais para as periférias das cidades, distânte dos olhares estrangeiros?
    "40 anos em 4" e isso que nosso país vêm tentando fazer. Buscam mostrar melhorias imediatas, mas são melhorias que deveriam ter sido "cultivadas" durante todos esses anos, e não em vespera de Copa, e por causa de uma Copa. Todos esses anos não se quis ver os problemas, ou fingiam que não vinham, e agora que eles estão visivéis demais, e só "joga tudo para debaixo do tapete" e aumentar o policiamento, até esse evento passar.

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  5. É muito interessante observarmos a ação do governo exercida contra a cultura brasileira na preparação para um evento internacional quando a comparamos com a exaltação que o governo canadense fez da sua cultura, ao organizar os Jogos Olímpicos de Vancouver em 2010. Naquela ocasião, o governo canadense não apenas construiu quatro imensos totens que simbolizavam os povos aborígenes que influenciaram a cultura canadense, como também destacou com honras de líderes de estado as lideranças daquelas etnias. O mundo inteiro testemunhou o respeito e a consideração de um povo. Temos muito o que aprender como povo, mas também temos muito o que ensinar como formadores de opinião.

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  6. Adoro futebol, na copa de 2014 pretendo estar até com o cabelo pintado de verde e amarelo se for o caso. Um surto de patriotismo que não dura mais do que 1 mês?Talvez... Um país "juntos num só ritmo" ou algo do tipo como dizem alguns slogans feitos para vender aos montes junto com adesivos e vários outros materiais com aquele mascote de nome ridiculo (Fuleco). Que seja!O que não pode é meu momento de diversão e o lucro de alguns sobrepor anos de lutas e uma história de minorias. É um ato tão ridículo quanto o nome desse mascote (repito: FULECO)

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  7. Raphael Cordeiro
    É algo lamentável que mesmo hoje ainda há o lema de progresso ou avanço a qualquer custo, essa situação mostra o quanto o governo (e também parte da população) tem como parâmetro de desenvolvimento somente o lado econômico da situação, em minha opinião os povos endêmicos, sobretudo os índios (que são no sentido mais profundo da palavra, brasileiros), tem os direitos mais violados quando estes entram em confrontos com os interesses de megaprojetos, esta situação no Rio de Janeiro ainda poderá ter um desfecho melhor por que ocorreu na área metropolitana da cidade (então não teve como conter o rápido avanço da gravidade situação do ocorrido), mas imaginem os movimentos indígenas que lutam contra a construção da Usina de Belo monte?

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  8. Esse tipo de acontecimento mostra que o governo tem se preocupado em valorizar esses grandes eventos de uma forma que não tem respeitado os direitos humanos de certa minoria da população, nesse caso a população indígena, que já habitava naquele local por um bom tempo. Esse desenvolvimento a qualquer custo tem passado por cima de muita história, de muitas relações sociais estabelecidas e valores ou sentidos que foram sendo construídos naquele local, assim, as pessoas são obrigadas a abandonar algo que faz parte de sua história de vida, e são violadas em seus direitos humanos, isso é realmente lamentável.

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  9. Incrível como a atitude do governo é contraditória... A forma como a Copa do Mundo está sendo organizada no Brasil, por si só, já é completamente contraditória. Entendo que o Brasil é o "País do Futebol", mas as escolhas das cidades-sede já começou mostrando essas contradições, tendo cidades como Brasília, sem grandes manifestações futebolísticas, sendo escolhidas para sediar o evento e receber uma infraestrutura montada SÓ para a Copa, que não será usada posteriormente, e cidades como Belém, que tem uma nação apaixonada pelo esporte,simplesmente ignoradas diante do evento.
    Aí tem um outro lado: agir com brutalidade contra povos que são patrimônios de nossa cultura, para garantir que o avanço para a tal sonhada Copa do Mundo aconteça, custe o que custar.
    Essas duas situações trazem as perguntas: que democracia é essa que vivemos, onde o povo não é ouvido, e o que se faz é impor as decisões do governo? Que representantes são esses, que durante as eleições se dizem estar com o povo, e num momento desse mostram não consideram as manifestações contrárias a uma decisão governamental? Vivemos numa democracia ou numa ditadura fantasiada de democracia?
    Infelizmente não é só diante da Copa que tais problemas aparecem, mas o desrespeito com os povos indígenas e com a população em geral perduram em vários outros setores nos quais o governo se mostra omisso ou contrário à voz da população. Não vai longe: a usina de Belo Monte é uma prova disso, com todas as manifestações da sociedade contrárias ao projeto, o governo parece se fingir de cego, surdo e mudo!
    É... Tudo isso só mostra e confirma que a Copa do Mundo de 2014 vai sair assim mesmo, no jeitinho bem brasileiro!

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  10. É sob essa lógica de mercado que o Brasil vive, só o que importa é aquilo que gera lucro... Uma copa do mundo onde a única coisa que importa é o capital que irá entrar no país é muito triste! Infelizmente me parece que esses acontecimentos são planejados, como se o governo fizesse de tudo para acabar com nossas populações indígenas a fim de criar um país sem história e uma população mais facilmente manipulável.

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  11. É absurdo como o futebol é usado para mascarar as mazelas e os problemas políticos no Brasil. Mas, comprar a mídia para vender a imagem de país do futebol para o povo "tudo bem", o problema é passar por cima dos direitos de grupos que deveriam ser protegidos por esse governo invasor. Além de tudo, o governo compra (novamente) as mídias pra silenciarem o caso e mostrarem essas manifestações como "rebeldes", de pessoas que querem impedir o crescimento do país do futebol!

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  12. Bom muitos de nós compreende o que está por trás de todo esse espetáculo do evento "COPA DO MUNDO NO BRASIL" mais entendo também que tudo isso é reflexo dessa alienação social que o governo convenientemente faz questão de perpetuar, importante também é sairmos do mundo do discurso e procurar meios que mostre nossa insatisfação com essa forma de utilizar o dinheiro público privilegiando poucos em detrimento da educação da cultura dos direitos humanos e etc.. Temos que participar porque só falar já estou cansada !!!!

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  13. Na verdade não é segredo para ninguém que o governo brasileiro só quer saber do lucro. Importa educação? Importa a saúde? Claro que não! Por que será que se faz questão de investir milhões de reais nesses eventos?! Porque vai gerar muito mais dinheiro para o bolso dos políticos. Só que eles dão a desculpa de que vai gerar renda para o país. E esse dinheiro todo vai pra onde?! Para a educação, segurança e saúde, que são coisas que realmente o Brasil precisa não tem dinheiro.
    Não vejo avanço nenhum nisso. Adoro futebol sim, mas esses eventos não trazem benefícios para a população, ao meu ver.
    Pura política do "pão e circo".

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  14. Lembro de uma tirinha que dizia: "Disseram terra a vista... mas os índio pagam até hoje". Por outro lado, penso que não só a parcela indígena sofre, mas todas as minorias estão sendo varridas para fora dos entornos dos estádios. Lamentável como as coisas se resolvem nesse país.

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  16. O pior é pensar em como grande parcela da população, manipulada há tempos por ideologias que pregam um individualismo exacerbado, oferecem apoio para esse tipo de ação de higienização, tudo em prol de seu entretenimento. A população brasileira é campeã em queixar-se de corrupção, mas não consegue perceber como sua negligência aos problemas sociais e esse individualismo dá ao governo a liberdade de fazer o que quer com aqueles intitulados como "minorias" por manterem viva em si uma cultura que não corresponde aquela pregada pelo meios de comunicação e da dita "sociedade pós-moderna". Tudo isso para a venda da imagem de um país "desenvolvido", na tentativa de estabelecer relações de mercado e encher os bolsos das elites.

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  17. Interessante essa atitude! O novo motivo da desocupação do prédio seria para a construção de um museu das olimpíadas! Que tipo de lógica é essa que suprime a cultura local para dar espaço para uma história que não nos pertence? Nós temos que dar valor para nossa história, nossa cultura, e nosso modo de vida, nas suas mais diversas expressões. A violência cometida contra esse grupo pode se reverter contra qualquer parcela da população. Em busca de um "bem público" é sacrificado cada vez mais as "minorias". E todos nós somos minorias, e todo nós temos que ser sacrificados pelo "bem público", que na realidade não é o bem de ninguém, é só um discurso bonito, que disfarça uma série de interesses que em nada contém o "vontade popular".
    É só olhar para a forma como tudo foi planejado. A polícia cercando o local já durante a madrugada, enquanto esses despejos só podem ser feitos durante o período diurno. Que tipo de "bem público" é esse, que viola direitos, e despe seus cidadãos das mínimas garantias?

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  18. É a higienização que varre para debaixo dos tapetes as mazelas do Brasil. Somente a alegria do povo brasileiro é que pode ser mostrada. Enquanto o governo se articula para fazer "a melhor copa do mundo", a sociedade agoniza com a violência, a saúde pública precária e escolas e universidades sucateadas. O espetáculo está sendo preparado com toda a pompa e circunstancia e nós (povo brasileiro) seremos meros espectadores? A política do pão e circo será suficiente?

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  19. Lembro-me que após o anúncio do Brasil como país sede da Copa do Mundo de 2014, surgiram várias declarações de que o evento seria "A Copa da Amazônia", "A Copa da Sustentabilidade", etc. Esta lembrança e os absurdos relatados na publicação evidenciam o quanto estamos cercados de discursos ocos e de pessoas com a cabeça ainda mais vazia. Dificilmente esta notícia correrá o mundo, mas é certo que no próximo ano, haverá um Maracanã moderno, confortável, câmeras apontadas para 22 jogadores, uma bola e para as dezenas de patrocinadores do evento que tiveram seus caprichos atendidos em detrimento da preservação e do respeito à história do nosso país.

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    1. Ao sairmos do Brasil, o que se escuta sobre este país é: "Brasil? O do samba e do futebol??"... é, meu amigo... e de total violação dos direitos humanos, principalmente!
      A imagem que se vende, que se globaliza, não é a originária das favelas, dos povos indígenas, dos negros que pra cá foram exilados. Quem chega por estas terras espera encontrar o paraíso de antes de Cabral, de verdes abundantes e povos "exóticos". Esta história tem-nos sido roubada, varrida pra debaixo do tapete, como disse Márcia, tem sido demolida, apagada. São 513 anos de despejo, não podemos deixar isto passar em branco.

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  20. É em atitudes como essa que se percebe o que é prioridade para o governo brasileiro. Como se não bastasse o fato em si da dívida histórica que temos com os índios e afro-descendentes, os motivos pelos quais "aumentamos" essa dívida são cada vez mais absurdos. Copa do Mundo? Estacionamento e shopping? Sim, vivemos em um país que isso é mais importante que a saúde, a educação,a identidade cultural dos povos, a vida humana, enfim. Eu não diria "inversão de valores", penso que mais brasileiro seria dizer a ausência deles. Brasil, mostra a tua cara!

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  21. Observando determinadas intervenções extremamente violentas realizadas pelo Estado brasileiro nos últimos anos, podemos perceber quais são as metas e prioridades para o país. No momento em que o desenvolvimento econômico consegue suplantar o respeito aos direitos humanos é que vemos a fragilidade da nossa democracia. Não adianta haver normas constitucionais que preservem a identidade e cultura das populações indígenas se estas não são minimamente consideradas. É lamentável que a Copa de 2014 esteja sendo estabelecida em bases tão autoritárias.

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  22. É a política de higienização se fazendo presente mais uma vez no Brasil. Infelizmente as prioridades nesse país servem à uma minoria, que não se preocupa e nem leva em consideração a diversidade de povos e culturas que há, tendo ainda, em pleno século XXI, uma visão etnocêntrica. Que democracia é essa em que vivemos, onde os direitos humanos de muitos são violados, colocando, muitas vezes, a integridade de alguns grupos em risco, diminuindo ou reduzindo as suas culturas e costumes? Na minha opinião, infelizmente, o Brasil ainda persiste em uma conduta colonialista, mascarada por uma democracia, que na realidade é governada pelos interesses capitalistas dos poderes privados.

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  23. Ana Cristina Brito
    É um tremendo desrespeito aos direitos humanos o que fizeram com os índios, um ato de brutalidade, que ultrapassa o campo da materialidade, é um ato que perpassa pela cultura, por seu modo de viver, assim como por sua possibilidade de expressão. Afinal, onde está a possibilidade de expressão dos povos indígenas? Esse fato nos leva a pensar sobre a lógica do mundo capitalista, uma selva, onde a lei e o estado estão a serviço dos mais fortes. E... nem que para isso seja preciso controlar e punir os mais fracos para se proteger o tão desejado e estimado lucro, "varrer", como disse a Eileen, o nosso povo para debaixo do tapete, ou seja, mais uma vez, higienizar o espaço, a cidade para se atender a uma política de higienização social urbana. A copa será em 2014, mas já sentimos os reflexos da mesma,... Retirar os índios para se fazer garagens ou mais um “elefante branco”?. É lamentável que em pleno sec. XXI, ainda temos tantos resquícios do colonialismo, a todo momento vem a tona, aliás, o capitalismo lembrando-nos sobre o nosso papel de povos colonizados, em que temos que “limpar a casa” para receber “os colonizadores”.

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  24. Sem dúvida a derrubada deste prédio, não seria apenas uma perda material e sim significa suprimir a cultura indígena. O capitalismo perverso passa por cima de qualquer coisa que se dê como empecilho para seu tal "desenvolvimento", tal "desenvolvimento" , ênfase nas aspas, que o governo quer mostrar com esses eventos grandiosos do futebol, essa copa do mundo indubitavelmente é desnecessária haja vista todos os problemas sociais que o Brasil passa. Como se não fosse o bastante a educação, saúde, segurança etc, ainda há que se violar os direitos humanos, que perpassa por toas essas questões, no entanto aparece extremamente deflagrado nesta questão e como no caso de Belo Monte também. Um grande problema que o nosso país enfrenta desde a época da colonização é que o Estado permanece norteado pelo capital, pelos grandes interesses econômicos, lamentável para o desenvolvimento de fato, não este tal que o governo quer pregar a população tanto brasileira quanto aos outros países.

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  26. É lamentável ver como a política brasileira hierarquiza suas prioridades, e rege seus projetos visando o lucro e o “glamour” ainda que para isso certas comunidades têm que ser sacrificadas. A organização do grande evento da copa do mundo é um retrato disso. Não que seja ruim por completo um país se empenhar em oferecer um mega evento como o da copa, mas é necessário que haja um planejamento de forma a ser próspero por agir da maneira mais justa possível com todos os povos. A prosperidade não se trata apenas de realização de obras faraônicas, mas tentar levar da melhor maneira possível garantido o amparo e o bem estar social à população.

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  28. O mais interessante, para não dizer triste, é saber que o governo, nosso representante - que aliás não nos representa - não considera nossas opiniões sobre fatos. Digo isso, pois recentemente, ao assistir o filme "belo monte- o anúncio de uma guerra" ouvi o político Nicias Ribeiro tendo a coragem de dizer o seguinte: " O Congresso Nacional é quem representa o povo brasileiro... índio ou não índio quem representa é o Congresso Nacional(um sorriso aparece no rosto da figura...)... a obra vai sair então eu acho perda de tempo discutir questão ambiental, licença lei lá de quê...".
    Já está na hora de fazermos como esses manifestantes e mostrarmos para os políticos que desejamos estar a par de tudo o que eles fazem e também desejamos que nossa opinião seja respeitada, caso contrário o governo continuará fazendo tudo ao seu bel-prazer.

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  29. Uma estratégia antiga, que muitos reconhecem e chegam a comentar: “política de pão e circo”, “O estado faz isso para distrair e tirar a atenção do que é importante”. No entanto gostaria de ressaltar um aspecto cultural mostrado pelo texto sobre a ocupação da aldeia.
    O grande problema em relação a valorizar mais o que vem de fora é o próprio desconhecimento, do lugar em que vive dos mitos e discursos construídos socialmente. A partir do desconhecimento, deixa-se de olhar para as condições locais para “importar” modelos que vem de fora e que “deram certo” sem, no entanto reconhecer o contexto brasileiro. O país precisa estar preparado para receber uma copa do mundo como? Descaracterizando a cultura local? Percebe-se que a condição local nesse caso esta em segundo plano para se estabelecer uma estrutura moderna que não respeitará a população e que não caracteriza as prioridades do país e sim de interesses de minorias.
    Acredito que a letra da música “Belém Pará Brasil” Reflete não apenas o que acontece na região norte, mas no Brasil.

    “Vão destruir o Ver-o-Peso
    Pra construir um Shopping Center
    Vão derrubar o Palacete Pinho
    Pra fazer um Condomínio
    Coitada da Cidade Velha
    que foi vendida pra Hollywood,
    pra se usada como albergue
    no novo filme do Spielberg”.(...)
    (...) “Aqui a gente toma guaraná
    Quando não tem Coca-Cola
    Chega das coisas da terra
    Que o que é bom vem lá de fora
    Transformados até a alma
    sem cultura e opinião”.(...)

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  30. Não se pode esperar muito de um país onde os eventos esportivos tem mais importância do que a preservação da história e da cultura indígena, onde se viola e desrespeita os direitos humanos, não apenas deles, mas de toda uma minoria menos favorecida, onde se busca a todo custo certo “desenvolvimento”, nem que para isso tenham que passar por cima do respeito ao povo.

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  31. Manoella Canaan

    Hoje, infelizmente, o que se vê, é o governo passando por cima daquilo que seria 'o melhor' para a população, para se apropriar e fazer o que é melhor pra 'imagem' dos políticos, do governo, e até da imagem do Brasil como um todo para o mundo. Só que o que acontece realmente, é que ao invés de benéfica a atitude, ela se torna repudiante não só aos olhos daqueles que estão la na luta pelos direitos de todos nós (como os índios, lutando pela preservação do museu que representa seu povo), mas também aos olhos de cidadãos brasileiros que apenas assistem mas brutalidades feitas não só pra todos verem, mas aquelas que são feitas às escuras. a Copa do Mundo deveria ser um momento em que o Brasil deveria se reunir e tentar superar as dificuldades e mostrar ao resto do Mundo que somos capazes de ser um país, que apesar de tudo, vence!

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  32. E mais uma vez o interesse de quem tem "o poder" prevalece. Vender a imagem de um país, do nosso Brasil, passando por cima do que tiver que passar para benefícios de poucos.
    É o governo mais uma vez priorizando aquilo que é de seu interesse, "varrendo para debaixo do tapete" (como Marcia colocou) as mazelas do Brasil, aquilo que deveria ser realmente de interesse político, como os problemas com a saúde, educação da população. Só que não...prioriza-se a copa do mundo e desvaloriza-se os direitos humanos, direitos do nosso povo, de cada brasileiro. Desvaloriza-se a riqueza da nossa diversidade, de identidades aqui presente, da mistura de nosso povo.
    E a nossa dívida com esses povos que já foram tão humilhados e massacrados, só cresce.
    É no mínimo revoltante!

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  33. Há mais de 500 anos os portugueses chegaram e primeiramente usurparam as terras das tribos que habitavam o que futuramente seria o Brasil. E assim se iniciou uma história de extermínios, escravidão, imposição religiosa (ou catequização, eufemisticamente falando) que afirmava o processo de docilização dos corpos dos indígenas, com a finalidade de explorar sua mão-de-obra e explorar os recursos naturais de suas terras.
    Atualmente, vemos que a herança deixada por essas práticas de violação dos direitos humanos desses povos ainda se perpetuam. Porém, hoje já não são mais os portugueses que violentam esses povos, são os próprios "brasileiros", é o Estado, todo um aparato político, que por meio de um sistema impositor e vulgarmente chamado de democrático continua usurpando e infligindo os direitos daqueles que há mais de 500 anos apenas lutam pelo que antes lhe pertencia, pelo direito de manter suas práticas culturais vivas, pelo direito de viver.
    Já roubaram suas terras, sua religião, sua liberdade, sua cultura e suas vidas. E hoje querem destruir até suas memórias.
    Gol do Brasil!

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  34. Interessante essa atitude! O novo motivo da desocupação do prédio seria para a construção de um museu das olimpíadas! Que tipo de lógica é essa que suprime a cultura local para dar espaço para uma história que não nos pertence? Nós temos que dar valor para nossa história, nossa cultura, e nosso modo de vida, nas suas mais diversas expressões. A violência cometida contra esse grupo pode se reverter contra qualquer parcela da população. Em busca de um "bem público" é sacrificado cada vez mais as "minorias". E todos nós somos minorias, e todo nós temos que ser sacrificados pelo "bem público", que na realidade não é o bem de ninguém, é só um discurso bonito, que disfarça uma série de interesses que em nada contém o "vontade popular".
    É só olhar para a forma como tudo foi planejado. A polícia cercando o local já durante a madrugada, enquanto esses despejos só podem ser feitos durante o período diurno. Que tipo de "bem público" é esse, que viola direitos, e despe seus cidadãos das mínimas garantias?

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  35. É incrível como os erros dos anos e dos séculos passados, aparentemente, não nos ensinaram quase nada (para não dizer nada)sobre o respeito aos direitos humanos nesse país. Persistimos em fazer o mesmo que os nossos colonizadores fizeram quando chegaram em nosso território. Continuamos a impor nossos costumes, crenças e valores aos povos indígenas, em detrimento de suas próprias formas de vida e de seus valores culturais. Se antes o massacre a esses povos era muito mais físico, hoje os massacramos muito mais ideologicamente, usando como desculpa um tal de "desenvolvimento", que faz tudo, menos cumprir os seus intentos originais. Na verdade, pode até ser que esse tal de "desenvolvimento" que o Estado brasileiro tanto prega esteja acontecendo, mas nos perguntamos, insistentemente, a "troco de quê" isso está sendo feito. Quantos "Museus do Índio" terão que ser destruídos e quantas "Usinas de Belo Monte" terão que ser construídas até percebermos que não estamos nos desenvolvendo ou progredindo, e sim retrocedendo? Até quando os políticos insistirão em um discurso democrático contraditório que, teoricamente, prega direitos iguais para todos, mas trabalha, na prática, em favor de uma minoria? Mais do que interesses econômicos, o que está acontecendo, implícita e explicitamente, é aquilo que tanto Foucault falou em suas obras: são as relações de poder sendo exercidas.

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  36. É triste ver esse tipo de atitude, não só pelo ato violento em si, mas por ser uma tentativa desesperada de apagar assuntos que já deveriam ter sido previamente resolvidos. Se pensarmos pela lógica, o Brasil, e nesse caso o governo do Rio de Janeiro, já deveria ter resolvidos certos assuntos muito antes de se candidatar a participar de uma copa do mundo, um país não pode arriscar ser cede de um evento como esse e esperar um veredicto, um sorteio, para começar a mudar as estruturas e não mudar da forma que desesperadamente e violentamente tentou-se mudar nesse caso, mas mudar abrindo portas pra um futuro melhor.

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