quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Ritalina, a droga legal que ameaça o futuro!

Publicado em: http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/ritalina-a-droga-legal-que-ameaca-o-futuro/



Com efeito comparável ao da cocaína, droga é receitada a crianças questionadoras e livres. Professora afirma: “podemos abortar projetos de mundo diferentes”

Por Roberto Amado, no DCM
É uma situação comum. A criança dá trabalho, questiona muito, viaja nas suas fantasias, se desliga da realidade. Os pais se incomodam e levam ao médico, um psiquiatra talvez.  Ele não hesita: o diagnóstico é déficit de atenção (ou Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH) e indica ritalina para a criança.
O medicamento é uma bomba. Da família das anfetaminas, a ritalina, ou metilfenidato, tem o mesmo mecanismo de qualquer estimulante, inclusive a cocaína, aumentando a concentração de dopamina nas sinapses. A criança “sossega”: pára de viajar, de questionar e tem o comportamento zombie like, como a própria medicina define. Ou seja, vira zumbi — um robozinho sem emoções. É um alívio para os pais, claro, e também para os médicos. Por esse motivo a droga tem sido indicada indiscriminadamente nos consultórios da vida. A ponto de o Brasil ser o segundo país que mais consome ritalina no mundo, só perdendo para os EUA.
A situação é tão grave que inspirou a pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, professora titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, a fazer uma declaração bombástica: “A gente corre o risco de fazer um genocídio do futuro”, disse ela em entrevista ao  Portal Unicamp. “Quem está sendo medicado são as crianças questionadoras, que não se submetem facilmente às regras, e aquelas que sonham, têm fantasias, utopias e que ‘viajam’. Com isso, o que está se abortando? São os questionamentos e as utopias. Só vivemos hoje num mundo diferente de mil  anos atrás porque muita gente questionou, sonhou e lutou por um mundo diferente e pelas utopias. Estamos dificultando, senão impedindo, a construção de futuros diferentes e mundos diferentes. E isso é terrível”, diz ela.
O fato, no entanto, é que o uso da ritalina reflete muito mais um problema cultural e social do que médico. A vida contemporânea, que envolve pais e mães num turbilhão de exigências profissionais, sociais e financeiras, não deixa espaço para a livre manifestação das crianças. Elas viram um problema até que cresçam. É preciso colocá-las na escola logo no primeiro ano de vida, preencher seus horários com “atividades”, diminuir ao máximo o tempo ocioso, e compensar de alguma forma a lacuna provocada pela ausência de espaços sociais e públicos. Já não há mais a rua para a criança conviver e exercer sua “criancice.
E se nada disso funcionar, a solução é enfiar ritalina goela abaixo. “Isso não quer dizer que a família seja culpada. É preciso orientá-la a lidar com essa criança. Fala-se muito que, se a criança não for tratada, vai se tornar uma dependente química ou delinquente. Nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao contrário: não funciona. E o que está acontecendo é que o diagnóstico de TDAH está sendo feito em uma porcentagem muito grande de crianças, de forma indiscriminada”, diz a médica.
Mas os problemas não param por aí. A ritalina foi retirada do mercado recentemente, num movimento de especulação comum, normalmente atribuído ao interesse por aumentar o preço da medicação. E como é uma droga química que provoca dependência, as consequências foram dramáticas. “As famílias ficaram muito preocupadas e entraram em pânico, com medo de que os filhos ficassem sem esse fornecimento”, diz a médica. “Se a criança já desenvolveu dependência química, ela pode enfrentar a crise de abstinência. Também pode apresentar surtos de insônia, sonolência, piora na atenção e na cognição, surtos psicóticos, alucinações e correm o risco de cometer até o suicídio. São dados registrados no Food and Drug Administration (FDA)”.
Enquanto isso, a ritalina também entra no mercado dos jovens e das baladas. A medicação inibe o apetite e, portanto, promove emagrecimento. Além disso, oferece o efeito “estou podendo” — ou seja, dá a sensação de raciocínio rápido, capacidade de fazer várias atividades ao mesmo tempo, muito animação e estímulo sexual — ou, pelo menos, a impressão disso. “Não há ressaca ou qualquer efeito no dia seguinte e nem é preciso beber para ficar loucaça”, diz uma usuária da droga nas suas incursões noturnas às baladas de São Paulo. “Eu tomo logo umas duas e saio causando, beijando todo mundo, dançando o tempo todo, curtindo mesmo”, diz ela.

13 comentários:

  1. Muito triste ver como nossa sociedade vem sendo cruel no tratamento de crianças. E em nome de quê? Da simples manutenção de padrões sociais. Não sabemos a dimensão das consequências que essa droga pode trazer para o desenvolvimento dessas crianças, é muita irresponsabilidade dos profissionais e dos responsáveis. Espero que reportagens como essa cheguem ao alcance dos responsáveis e que essa realidade mude logo, para dar um ponto final a esse "genocídio do futuro".

    ResponderExcluir
  2. Na sociedade contemporânea o que vemos é a busca desenfreada por manter padrões de comportamento, e infelizmente os maiores atingidos com essa prática são as crianças. Hoje em dia se uma criança foge ao padrão socialmente aceito, esta é logo diagnostica com algum déficit. Se tornou comum o uso de ritalina em crianças, os pais por comodidade acabam despejando nas crianças essa "droga", que pode trazer efeitos catastróficos" aos pequenos. Infelizmente, em busca de comportamento "saudável" as crianças acabam submetidas a práticas nada saudáveis (que ironia), o que se espera é que os pais e profissionais tenham maior responsabilidade e cuidado com as crianças. Que haja cuidado em nome do bem estar e não da comodidade social, e assim teremos crianças criativas e espontâneas e não verdadeiros zumbis controlados por uma sociedade "cruel".

    ResponderExcluir
  3. Creio que o termo "aborto do futuro" se encaixa muito bem nessa situação.
    Quem determinou o comportamento dos grandes filósofos, pensadores, cientistas, revolucionários, e grandes mentes que mudaram este mundo? Creio que suas influências não vieram de "inibidores sociais", Com certeza eles não eram robôzinhos zumbis controlados por ritalina quando crianças -- penso eu que não eram.
    A grande questão é que tudo que foge dos padrões de normalidade institucionalizados pela sociedade causa espanto e medo, tudo isso porque o ser humano teme o desconhecido exatamente por sua essência misteriosa. Quando uma criança apresenta um comportamento que foge às regras, os pais seguem tentando reencaminha-la para o que concebem como o certo: permanecer quieto, fazer os trabalhos da escola, enfim, sossegar. Reprimem a criatividade e o senso critico da criança usando medicamentos por que não conseguem lidar com o processo de desenvolvimento e evolução infantil (tão obediente às leis do biológico e do social) de modo eficaz. Realmente uma grande questão a ser discutida.

    ResponderExcluir
  4. O homem por meio da ciência foi, é, e com tantos avanços científicos e tecnológicos será ainda mais capaz de provocar grandes mudanças, tanto nas relações humanas quanto nas relações com a natureza. Pode-se mudar curso de rios, perfurar montanha par fazer extensos túneis, perfurar quilômetros em baixo d`água para extrair petróleo e "grandiosidades" do gênero. A questão é: Se por interferir tanto no caminhar da natureza e daquilo que é natural, toda a humanidade paga e espera-se que venha a pagar mais e mais caro, por meio de desastres provocados, o que se pode esperar como consequência (s) de se interferir de forma criminosa em algo que é natural principalmente nas crianças que é o comportamento levado, explorador, aventureiro, curioso, entre outros, que fazem parte do processo de desenvolvimento de qualquer pessoa? A resposta parece e de certo modo é óbvia: Uma geração tolida, tímida, reprimida, infeliz e doente. Que pode perder a sua capacidade de inventar, criar, inovar, para apenas repetir, aquilo que é de interesse de uns poucos que visam uma única coisa, o lucro. Mas que lucro será esse? Tolir, tanta vida, tantos talentos, tanto brilho, não é como dar um tiro nos próprio pés? Enfim, com pés feridos ninguém vai muito longe, pra não dizer a lugar nenhum.

    ResponderExcluir
  5. Esse texto mostra de maneira mais clara e infelizmente triste uma medicalização cada vez mais frequente. É muito mais fácil passar uma droga e anular um problema, um "comportamento que não faz parte da norma" e patologizar de maneira indiscriminada do que investir em um tratamento seguro, que não anule a criança por ser mais "danada" e "brincalhona". Não é interessante para a indústria farmacêutica uma sociedade saudável, ela precisa de cada vez mais doenças para vender seu produto. Assistimos a um financiamento crescente de novas patologias que não vai parar de crescer se não houver luta, se não houver questionamentos sobre a disputa de mercado por mais doentes! Chega de mais drogas, queremos nossas crianças vivendo não para satisfazer os anseios de uma sociedade debilitada, uma sociedade patologizante, mas para descobrir de forma criativa o seu processo de subjetivação, de existência.

    ResponderExcluir
  6. As drogas socialmente aceitas em nossa sociedade talvez produzam mais doenças e doentes que as marginalizadas e entendidas como demoníacas e produtoras de violência, tipicas de "degenerados". Enquanto acusamos o pequeno traficante de "bandido", "ladrão" e que "merece morrer", dopamos nossas crianças e produzimos adolescentes e adultos problemáticos e infelizes. O mais preocupante pode ser o grau de banalização que a medicalizaçao infantil atingiu, sendo comum escolas adotarem esse modelo pra criar pequenos robôs, como dito no texto, atentos e quietinhos, sob controle da conduta formal e padrão. Estamos destruindo o futuro dessas crianças e não só elas, o Brasil como segundo país que mais consome Ritalina nos oferece a dimensão do problema e engana-se quem pensa que não há ninguém lucrando com isto.

    ResponderExcluir
  7. Atualmente, o que vemos em nossa sociedade é a medicalização da vida. E isso inclui as nossas crianças nesse processo assombroso. Não é mais permitido às crianças o direito de serem mais "elétricas" ou tímidas e quietas demais. Se apresentam um desses comportamentos a primeira coisa que se pensa é em algum transtorno, e não que talvez seja algo da personalidade da criança. Quantas pessoas não eram agitadas além da conta ou eram caladas demais na sua infância, mas que depois de adultos mudaram seu jeito sem precisar de remédio? Não estamos dizendo que não há realmente nenhuma necessidade de remédio em alguns casos, o que se quer dizer é que não se deve dar diagnósticos e medicações antes de uma análise minuciosa de cada criança, do seu ambiente, do relacionamento familiar e social, enfim, de tudo que a cerca. Parece que vivemos um momento em que tudo precisa ser resolvido de maneira rápida, e o remédio é a saída para mudar comportamentos inadequados das crianças, quando na maioria dos casos, o problema pode ser outro. Portanto, a medicalização de crianças deve ser feita com muito cuidado, pois não se tem ainda a dimensão do que essas drogas podem causar no seu desenvolvimento futuro.

    ResponderExcluir
  8. Triste aspecto da nossa sociedade atual, que compensa nos medicamentos o seu estresse e ansiedade advindos do excesso de trabalho e busca de obtenção de lucro desenfreados...O pior de tudo é ver esses "sintomas" serem transferidos as crianças, quando os pais irritados e/ou impacientes descontam suas rotinas em seus filhos. Infelizmente, é muito "fácil" lidar com uma criança "problemática" quando ela esta medicalizada, dopada, impedida de atuar nas suas fantasias e curiosidades do que responder as suas demandas e inumeráveis por quês. Se muitos pais e professores soubessem que com tal medicalização desnecessária eles fazem a alegria das indústrias farmacêuticas e DSM's, provavelmente pensariam de forma mais consciente e não tomariam esse tipo de atitude. Por isso é importante trabalhar na conscientização acerca da questão sobre a medicalização da vida. Mostrar que não, não é normal tomar remédio para tudo, achar que tudo se resolve com medicamentos, ou na pior das hipóteses, achar que a energia e disposição de uma criança são sempre transtornos de atenção.

    ResponderExcluir
  9. Sim a Ritalina é um problema. Mas é um problema maior porque não sabemos administra-la. Não sabemos como pais, como profissionais, como médicos, como sociedade. Não podemos simplesmente falar que não funciona. Um dia assisti uma palestra com um médico psiquiatra e ele disse "não faço uso indiscriminado do medicamento para as crianças, mas analiso a situação, se a criança começa a organizar os sapatos, as bonecas, as roupas, os talheres e assim adiante, e sofrer se alguém a desorganiar; como não olhar pro sofrimento dessa criança, principalmente, e para a família". Vejo esse caso e tantos outros como uma não educação dos médicos e da nossa sociedade. Como uma sociedade que permite a facilitação e o acesso a esse e tantos outros medicamentos. No texto, “Não há ressaca ou qualquer efeito no dia seguinte e nem é preciso beber para ficar loucaça”, diz uma usuária da droga nas suas incursões noturnas às baladas de São Paulo. “. de novo aqui vimos o livre acesso a um medicamento que é receitado apenas por um médico especialista, como essa usuária o conseguiu? Esse também é um fator preocupante. E permitimos isso. Só acho que muito além de criticarmos o uso do medicamento que talvez possa ajudar uma criança ou pessoa que realmente precise, devemos nós reeducar enquanto sociedade, cidadãos, médicos e país para a medicalização necessária, não a medicalização livre e exacerbada.

    ResponderExcluir
  10. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  11. "Ritalina, a droga legal que ameaça o futuro!" é de fato a realidade que estamos muitas vezes evitando enxergar, talvez por ser conveniente termos "pessoinhas" que fazem tudo "nos conformes", não dando "trabalho" para ninguém, afinal de contas, quem hoje em dia tem tempo para "brincar em serviço"? Acontece, porém, que medicalizar estas crianças reflete uma irresponsabilidade tamanha de nossa parte: como sociedade em geral estamos "apenas" sufocando-as, conscientes disto ou não, em prol de motivos fúteis e razões inconsistentes. Como será o futuro dessas pessoas que desde tão cedo são viciadas em "drogas", lícitas, mas drogas (cujo mecanismo é comparado a outras estimulantes como a cocaína), que estamos mais que sabedores de seus efeitos colaterais? A anulação de sintomas, que era o que se preconizava psiquiatricamente, agora trouxe dilemas outros que para não nos fugir o controle, adivinhemos nós... remediaremos novamente. E enfim este ciclo lucrativo só tende a crescer para alguns setores fármacos.
    Precisamos fazer nossa parte no que concerne ao empoderamento da sociedade sobre tais informações importantíssimas, e mais, lutarmos contra a rotulação que vem sendo feita desenfreadamente de todo comportamento indesejado para a ordem das coisas, além de resistirmos a recorrente medicalização da vida.

    Sthefany Cunha

    ResponderExcluir
  12. E então algumas perguntas ainda desconhecem fatos como estes apresentados no texto, até antes de entrar na universidade, era um universo desconhecido pra mim também, afinal, pra quê divulgar nas grandes mídias coisas tão lucrativas pra grandes empresas? É nosso capitalismo selvagem, que é um grande clichê na boca de diversas pessoas, mas que infelizmente se repete e é real.Entretanto, partimos para outro ponto importante, como foi dito no texto, o problema não é a Ritalina, e sim, nosso contexto sócio-cultural, a história dos fármacos nos leva a anos e anos de estudo na busca de medicamentos que sejam cada vez mais eficazes e eficientes, não podemos nem devemos negar o quão importantes eles são, só que dopar crianças, para evitar sua "peraltice", sua curiosidade, suas viagens, carrega uma realidade muito danosa. A medicalização é muito recorrente entre adultos e vem sendo imposta às crianças também, o Brasil para pra discutir sobre criminalização de drogas, cracolândia, traficantes e etc, e não vê que remédios são drogas, remédios viciam, mexem com o organismo e alteram toda uma lógica fisiológica (tanto que vem sendo utilizada por jovens com finalidades de “pirações” em festas), mas... o melhor é termos pessoas controladas, dentro da nossa cadeia de coerções, e onde está a criança nessa cadeia? Embaixo, bem embaixo, criança não sabe o que faz e criança boa é criança quieta, então o certo é decidir que criança "problema" precisa de remédio, já que não é normal, não é boa perante a sociedade. Discutir, debater, informar, se implicar nessa situação é de suma importância, não somos donos de um saber, mas fechar os olhos pra uma tentativa tão perigosa de normatização não é o papel a ser tomado por nenhum de nós..

    ResponderExcluir
  13. A Ritalina mesmo sendo para tratamento que os professionais descobriam para solucionar os problemas das crianças, com déficit de atenção ou entre outros mais também é um grande problema para o futuro da criança. A Ritalina é como qualquer droga que ao longo do tempo acaba tornando um Vicio e depois a destruir a vida do individuo e da sua família em si.
    Apesar da peculiaridade de cada criança, algumas características são inseparáveis à maioria delas. Impaciência e falta de atenção para atividades escolar, ou seja, qualquer atividade que uma criança possa exercer. Mas às vezes não pode ser recomendado para o uso de longo prazo.
    Com isso Cabe aos profissionais envolvidos com o paciente apresentar uma banca de possibilidades possíveis e as consequências e efeitos desejados no curto e longo prazo, para o paciente possa fazer uma boa escolha e para que as melhor efeito ocorra.

    ResponderExcluir