segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Mega-Eventos, Proibicionismo e a Reforma Urbana

Publicado em: http://culturaverde.org/


A vinda da Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016 não estão trazendo apenas gordos investimentos aos bancos e expectativas de lucros históricos para o setor hoteleiro e para os conglomerados de  empresários donos de empreiteiras.
Os mega-eventos no Brasil trazem consigo todo um processo de criminalização da pobreza e de reestruturação urbana para nossas cidades que, infelizmente, é uma conta a ser paga pela parcela trabalhadora e pobre da população. Os despejos em massa para a construção de complexos esportivos, estacionamentos ou hotéis são referendados por uma política de “remoção branca”, como designou o deputado estadual Marcelo Freixo. A remoção branca consiste em elevar os custos de vida de uma determinada região para que os moradores pobres tenham que se deslocar para as periferias cedendo espaço aos grandes empresários e seus investimentos em infra-estrutura para os eventos. A política de UPP, restrita praticamente à zona sul do Rio, é um bom exemplo de como isso vem ocorrendo.
Com a entrada das ‘Unidades de Polícia Pacificadora’ uma gama enorme de serviços tiveram uma alta em seus preços e acabaram por expulsar os mais pobres da região. A esse processo de alteração dinâmica da cidade, quem vem excluindo os pobres, chamamos de “reestruturação urbana”, no caso específico uma reestruturação excludente.

Embora absurda, toda essa política repressora é referendada no discurso de guerra às drogas. A entrada do estado nas favelas da zona sul carioca por meio das UPP só ocorreram porque a opinião pública estava convicta de que tudo aquilo era necessário para combater o “grande mal” que são as drogas. Não demorou muito para que a população pobre dali não se visse mais em condições de pagar suas contas de luz, água, telefone e tivesse que se deslocar para as periferias, longe dos olhos mal acostumados de nossos turistas.

27 comentários:

  1. É visível que essas medidas de pacificar as favelas e de fazer internação compulsória atende aos interesses de determinadas pessoas. Estão fazendo uma higienização das ruas para não incomodar os mais ricos e para que os turistas que venham ao Brasil, nesses eventos citados, não vejam o tamanho de nossas responsabilidades com os cidadãos menos favorecidos.

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  2. Há apenas três alternativas em tudo: 1 - aceitamos, mas nos submetemos, calados e obedientes pelo medo ou pela preguiça; 2 - passamos a aprovar e apoiar (e o medo ou a preguiça anda são fatores importantes aqui); 3 - questionamos e nos submetemos às consequências. Notem que, de todo modo, nos submetemos aos ecos das nossas próprias escolhas. Minha dúvida é: o que estamos fazendo com isso agora e o que acontecerá depois de os eventos ocorrerem?

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  3. O acompanhamento da mídia, exaltando essa política absurda é o que é mais ridículo... Se nós acreditamos ou fingimos acreditar nisso iremos ter que aguentar as consequências mais tarde.

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  4. O Rio tem esse histórico de marginalizar populações. Foi assim que se deu o início das períferias que temos hoje: urbanizaram áreas e expulsaram a população pobre, que sem ter para onde ir, se aglomeraram em áreas de risco.
    É mais do mesmo.

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  5. A urgência dessa "limpeza social" são os grandes eventos vindouros, porém, há tempos que estas mesmas políticas de enxotamento dos portadores da "patologia do pauperismo" são sorrateira e disfarçadamente aplicadas, e por meios muito astutos, os menos favorecidos são varridos- sutilmente- dos lugares cuja valorização, por uma razão ou por outra, se eleva em um ponto dos grandes centros urbanos. E é visível o papel da mídia na maquiagem, na aplicação de figurinos que omitam o real motivo de uma determinada ação e a façam parecer benéfica quando se esconde por trás um desejo perverso, o da "limpeza social da pobreza", como no caso das políticas do Rio de janeiro.

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  6. Ao ler esta matéria lembrei de uma reportagem que assisti esta semana em um telejornal. Falavam sobre a polêmica das Férias escolares de 31 dias para o período da Copa de 2014. Muitos alunos, pais e até mesmo profissionais da educação aprovam a ideia, outros não.
    Eu pensei na hora: Que país é esse que prioriza eventos esportivos ao invés da Educação? Sim, sei que o esporte, os projetos esportivos são extremamente importantes para o desenvolvimento das crianças e adolescentes e auxiliam muitas escolas, famílias, pessoas carentes etc.
    Se o projeto for aceito o calendário letivo das escolas será afetado, e consequentemente deverá ser alterado e adequado ao cronograma das atividades esportivas.
    Os que defendem a ideia justificam que a atenção dos alunos estarão muito voltadas para o evento e sim, em minha opinião eles estão corretos. Mas fazer alterações no calendário letivo escolar que pode prejudicar muito mais o aprendizado dos estudantes para adequá-lo ao cronograma das atividades da copa do mundo é com certeza deixar a educação em segundo plano.
    Mas, e os estudantes, o que ELES querem? Bem, a maioria, de acordo com a reportagem do telejornal, aprova a ideia. Sim, se o meu país não valoriza a educação por que EU deveria valorizar? Vou me envolver com o futebol que dá lucro! É isso que nossas crianças estão aprendendo, é isso que ensinam as elas, e isso é extremamente preocupante!
    O que estou criticando aqui não é quando serão as férias ou não, ou o que é melhor para os estudantes ou não, a minha indignação foi a despreocupação com a educação no país.
    Então eu me pergunto: Como fica o futuro de um país que ensina suas crianças que a Educação está em segundo plano?

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  7. Em relação ao Processo de “reestruturação urbana”, lembro-me muito das palavras de Foucault - Microfísica do Poder - O Nascimento da Medicina Social, quando ele fala sobre 'A Purificação da Cidade' do modelo de saúde adotado pela França.
    Esta é a situação de nosso país, principalmente agora, com a chegada desses eventos mundiais, exclusão, exílio, remoção da população pobre dos centros das cidades. Tudo isso com o objetivo de 'proteger as classes ricas', na França, o que na minha opinião também se encaixa no caso do Brasil, além de Maquiar o país para que pareça desenvolvido aos olhos do mundo.

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  8. Isso me remete bastante ao Brasil 1900, onde houve uma pressão empresarial, para que houvesse uma higienização dos Portos brasileiros, pois a higiene dos portos se fazia pesar na imgaem do Brasil diante do mercado internacional. E a urbanização do Rio de Janeiro, onde a classe pobre foi deslocada para os morros, para o "limpar" a cidade e "proteger a burguesia"

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  9. É lamentável que a reestruturação e as melhorias que o Poder Público efetue no país sejam impulsionadas por mega eventos, verificando nessas situações procedimentos arbitrários que acabam prejudicando os pobres, na medida em que os investimentos não são destinados para melhorar a qualidade de vida dessa parte da população, pelo contrário,a postura adotada pelo Estado é de exclusão desse grupo, realizando uma verdadeira "limpeza" dos mais pobres nas áreas que interessam economicamente e politicamente.

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Esse tipo de política é tipica do Brasil, varrer o verdadeiro problema pra baixo do tapete, mascarando a verdade em vez de trabalhar para resolver a problemática.

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  12. Com os olhos do mundo virados para o Brasil diante de eventos importantes mundialmente, já era de se esperar que mascaradas atitudes de limpeza social fossem tomadas. Afinal, em um país que constantemente vem crescendo economicamente não podem mostrar a seus visitantes a "verdadeira verdade" das desigualdades sociais. Muito menos podem perder a oportunidade de ganhar maior visibilidade internacional, ainda que isso custe o bem estar "dos filhos deste solo".

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  13. Raphael Cordeiro
    Este é o modo como as politicas "publicas" sempre veem agindo na historia do nosso pais, como já foi dito por alguns de meus colegas em outros comentários, mas ainda há outro problema gerado por estes megas eventos, no caso quando estes eventos são planejados por uma incompetente administração pulica aliada há uma economia que não é forte o suficiente para "bancar" tais eventos, o qual é o gigantesco ônus financeiro e social (como é dito na publicação) que pode ocorrer após o período desse evento, tenho um amigo que esta se formando em educação física pela UEPa cujo o tcc é sobre a crise financeira da Europa que começou com crise na Grécia a qual "concidentemente" ocorreu depois das olimpíadas sediadas neste país e também os problemas financeiros e sócias que estão ocorrendo na África do Sul apos a copa do mundo de futebol (estranhamente ele esta tendo dificuldade para achar um professor que aceite este projeto, muitos deles dizem:-porque tu não quer falar de músculos? é mais fácil.), imaginem o que isto pode os impactos que isto vai causas no Brasil (bem o ônus social já esta se manifestando).

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  14. Esse tipo de política que vemos hoje em dia não mudou muita coisa de tempos atrás. Varrer a sujeira para baixo do tapete é típico do Brasil. ora pois, reorganizar e ajudar d´muito mais trabalho. Limpe a cidade da sujeira e imundice (leia-se pobres) porque deixa a a cidade feia.
    Um mega evento acontece e não se pode deixar a verdadeira realidade vir a tona não é mesmo?! O que iriam pensar de nós?!
    O governo não quer saber se as pessoas vão se sentir humilhadas ou se existirão condições necessárias para se viver ... o lucro é mais importante.

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  15. A corda sempre quebra para o lado mais fraco... e nesse caso, o mais fraco é sempre a população mais carente... historicamente a manutenção dos direitos nunca foi o objetivo. O objetivo é sempre higienizar a cidade à partir de medidas extremas como desapropriação, internação compulsória, dentre outras... realmente triste!

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  16. Este cenário de "higienização" foi predominante na última edição da Copa do Mundo, na África do Sul. Segundo o Estadão, mais de 20 mil moradores foram removidos e transferidos para áreas empobrecidas da cidade. Entretanto, as imagens que encantaram o mundo foram de estádios suntuosos ao som de milhares vuvuzelas coloridas. No Brasil, o caminho não se mostra tão diferente. Infelizmente, os organizadores deste megaevento não medem esforços para materializar cidades de cartões postais, cidades para turista ver!

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  17. É notável que o Brasil não tem a infraestrutura necessária para sediar eventos deste porte, no entanto, os governantes tentam mascarar todos os problemas existentes e, quem sofre as consequências é a população mais pobre, que é vitima desse processo de higienização. Isso também remete muito à politica do pão e circo, onde tais eventos podem ser usados para entreter e distrair a população diante da verdadeira realidade.

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  18. Este comentário foi removido pelo autor.

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  19. Indubitavelmente uma atrocidade com a população pobre , que se vê sem escolhas diante desta reestruturação urbana excludente, uma medida de higienização das cidades que ja ocorrera há tempos atras, o que produziu revoltas etc. É perverso a alta dos preços de determinados serviços com o intuito de retirada da população pobre, para o "embelezamento da cidade". Com os grandes eventos que acontecerão no Brasil e os olhos do mundo voltados para cá, os governantes tentam "reparar" o que não devia nem estar acontecendo, com práticas onde não é levado em conta a vida das pessoas, e estas são apenas manipuladas como marionetes a serviço de uma elite.

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  20. Quando estava lendo sobre este tema mega evento proibicionismo, reforma urbana para a copa, lembrei-me de Foucault - Microfísica do Poder - O Nascimento da Medicina Social, quando ele fala sobre 'A Purificação da Cidade' do modelo de saúde adotado pela França.Retirar os mais pobres que pareciam estes sujando a cidade onde a burguesia mora, assim comparo o lema da copa no Brasil.Gente onde esta o sentimento de caridade de consciência de que o próximo também é humano independente de sua classe social ou outra categoria!

    TELMA

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  21. Há algum tempo li em uma revista que os processos de desapropriação das moradias de pessoas que residem em áreas nas quais serão realizados os mega-eventos dessa década estão sendo realizado completamente ao arrepio da legislação em vigor, desrespeitando preceitos constitucionais e violando os direitos fundamentais de centenas de famílias. Houve casos em que o processo de desapropriação foi feito em menos de 24 horas, não dando a oportunidade de questionamentos sobre a (i)legalidade dos atos públicos. Os dois mega-eventos (Copa de 2014 e Olimpiadas de 2016) estão se estruturando em bases totalmente autoritárias e anti-democráticas, contando com o apoio das mais altas esferas de governo, o que é inaceitável, já que somente se consideram interesses econômicos das grandes construtoras. O único a perder nessas situações é o povo brasileiro.

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  22. A reforma urbana, limpeza das grandes cidades, seja ocorrendo de forma direta, afastados pelo governo, ou de forma indireta, saindo por não ter condições financeiras de bancar os altos custos do centro, parecem cumprir o velho ditado de que “o que os olhos não vêem, o coração não sente”. Afinal, ficará tudo tão mais bonito e apresentável e é tão bom pra nossa imagem nacional. E o pobre pra onde foi? Não importa, ele também terá direito a acompanhar a magnífica copa do mundo pela TV em qualquer lugar da favela em que tenha conseguido encontrar abrigo sob a proteção de policiais que garantirão seu direito de ficar calado com alta munição.

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  23. Ao invés do governo montar planos de ação que possibilitem o melhoramento das condições biopsicossociais desses sujeitos, eles apenas varrem essas pessoas para longe por não serem boa propaganda aos estrangeiros. Isso só confirma que a maioria governantes desse país, governam para elites. Como Debord comenta em o livro Sociedade do Espetáculo, somos a sociedade do "parecer ter". O Brasil quer com politicas retrógradas, parecer ser um pais sem mazelas sociais.Mas, não com politicas eficazes mas, sim escondendo-as dos olhos do mundo.

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  24. A politica de "higienização" ocorreu nos jogos Olímpicos do Rio e agora mais uma vez na Copa do Mundo. É muito difícil viver num país onde a vida de cidadãos brasileiros não valem muito... É algo realmente revoltante, um desrespeito e uma violação de Direitos Humanos.

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  25. Na época, a "invasão" do Morro do Alemão já demonstrava certos problemas. Como você pode considerar a "invasão" de um espaço público, que oficialmente é território brasileiro? Partindo dessa lógica, o Estado violou e continuará violando direitos dos cidadãos dessas áreas, pois se entende que está entrando em território inimigo, que o inimigo deve ser eliminado.
    Como em um Estado Democrático de Direito podem surgir tais discursos? Como cidadãos acabam se tornando inimigos da "ordem pública"? E quando falo dos cidadãos, não falo somente dos traficantes, e sim de toda a população daquela área, que afinal, acaba sendo criminalizada.
    Quando se invade um local desse, não se tem em mente um determinado sujeito que deve ser preso, dentro da lógica das invasões, todos naquela área são criminosos em potencial. Nesse discurso de guerra acabam sendo legitimadas várias violações de direitos, como as famosas mortes por "bala perdida" nos confrontos entre policiais e "bandidos", e em nenhum momento isso é questionado, pois estamos em guerra, e em uma guerra sempre irão existir baixas.
    Tudo isso pertencente a uma racionalidade excludente, que tem uma real lógica interna, mas que se camufla em discursos pseudo-humanitários, com o objetivo de dar vazão a seus interesses verdadeiros.

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  26. Isso me faz lembrar a questão do Panapticon, onde alguém vigiava e controlava as pessoas de um local onde ninguém sequer sabia haver alguém vigiando, passando a ideia assim de que talvez as coisas acontecessem aleatoriamente; parece ser assim com a população que sofre com essa dificuldade financeira a partir do aumento dos preços, devem pensar que estão lidando com consequências meramente econômicas, quando na verdade há todo um fim político por trás disso, porém, assim como no panopticon, fica um pouco difícil de ver quem vigia e controla o povo se não tomar outros ângulos para olhar os fatos.

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  27. Quando defendem a importância de eventos desta magnitude no Brasil, sempre vem a pergunta: “pra quem isso é importante? Pra quem isso é benéfico?”.
    Com certeza, apenas uma pequena parcela da população poderia levantar as mãos agora em resposta as perguntas. Toda a lucratividade gerada pelos grandes eventos não passarão de notícias para a população que mais “contribuiu” para a estruturação deles. Contribuiu no sentindo de que não se vê os grandes empreiteiros abandonando a sua s casas ou apartamentos de luxos para darem espaço para os condomínios olímpicos. Além disso, a desocupação das favelas não vem de uma vontade autônoma e sim de uma obrigação.
    Obrigação porque o custo de vida fora aumentado, impossibilitando a continuidade da vivência de muitas pessoas nas favelas, preciso, então, abandonar suas casas. E já que tal abandono fora “legítimo”, por que eu, Governo, não posso usar aquele pedaço de terra para os interesses da coisa pública?
    Será que o país precisa mesmo sediar eventos assim? Será que o país está pronto para sediar eventos assim? A resposta parece clara: NÃO! O país precisa primeiro garantir moradia digna para a sua própria população para bem depois se preocupar ou não em por split no quarto de estrangeiro.

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