domingo, 1 de setembro de 2013

Indústria farmacêutica inventa novas doenças


Lucro até o osso

Heloisa Villela | Viomundo

– Existe um número muito maior de pessoas saudáveis do que de pessoas doentes no mundo e é importante, para a indústria farmacêutica, fazer com que as pessoas que são totalmente saudáveis pensem que são doentes. Existem muitas maneiras de se fazer isso. Uma delas é mudar o padrão do que se caracteriza como doença. Outra é criar novas doenças.

Parece teoria conspiratória. Mas a declaração da médica e professora Adriane Fugh-Berman é baseada em anos de pesquisa a respeito das práticas da indústria farmacêutica e da facilidade com que ela manipula os médicos, usados não apenas para vender remédios, mas também para promover doenças. No momento, ela está pesquisando algo que descobriu faz pouco tempo. Representantes de fabricantes de material cirúrgico muitas vezes são vistos dentro de salas de operação “ajudando” os cirurgiões. “Que relacionamento é esse?”, quer saber a pesquisadora.

Adriane Fugh-Berman é formada pela escola de medicina da Universidade Georgetown com especialização em medicina familiar. Militou em uma organização voltada à saúde da mulher e ouviu muitos desaforos de médicos, há duas décadas, quando reclamava que não existiam estudos comprovando a necessidade de tratamentos hormonais para mulheres na menopausa. Existia, isso sim, risco — como mais tarde ficou comprovado. O tratamento hormonal aumentou em muito os casos de câncer de mama e a prática mudou. Antes disso, ela ouviu muitas críticas em conferências e seminários médicos.

Quando embarcou no estudo e no programa de educação a respeito da relação dos médicos com a indústria farmacêutica, ela esperava uma reação ainda pior. Professora adjunta do Departamento de Farmacologia e Fisiologia da Georgetown, ela recebeu uma verba para estruturar o programa voltado para a educação dos médicos e para expor as práticas de marketing da indústria, os métodos que ela emprega para influenciar a prescrição de medicamentos. Tarefa espinhosa.

Filha de um casal ativo nos anos sessenta, nos protestos contra a guerra do Vietnã, a médica e professora Adriane Fugh-Berman abraçou a oportunidade e criou um blog bem sucedido, com informações e denúncias de gente que trabalhou na indústria farmacêutica e aprendeu as técnicas empregadas para conquistar e influenciar os médicos. Nos últimos dez anos, ela viu resultados do trabalho nos Estados Unidos. Mas alerta que a indústria farmacêutica vê o Brasil, a China e a Índia como os principais mercados para a expansão da venda de remédios.

Fugh-Berman escreveu vários artigos mostrando que a indústria seleciona profissionais ainda em formação, nos chamados Cursos de Educação Continuada (CME). Vendedores bem preparados identificam possíveis formadores de opinião nos centros médicos das universidades: médicos, enfermeiros e assistentes. Eles são paparicados.

Recebem presentes, atenção, são convidados para jantar. Depois de uma checagem, são escolhidos os que poderão falar em nome da indústria e servir aos propósitos mercadológicos. Enquanto falam o que a indústria quer ouvir e divulgam, no setor, a visão das empresas, continuam recebendo todos os privilégios. Assim, as farmacêuticas vão comprando acesso aos profissionais que podem prescrever e promover remédios.

5 comentários:

  1. Definitivamente cada vez mais as pessoas estão convencidas que a melhor forma de viver é com remédio. Infelizmente as pessoas, a cada dia que passa, acreditam que o remédio é a melhor forma de "resolver" as coisas. Para tudo se tem um remédio, até para o que, as vezes, uma boa conversa poderia resolver, ou uma boa noite de sono, ou uma massagem, a resolução de um problema, ou até mesmo aquilo nem seria algo que precisaria ser tratado e tudo estaria realmente bem. Inclusive, lembrei agora de um fato relatado por uma amiga minha que foi em uma médica e levou seus exames e a médica falou que uma taxa que indicava o nível de leite (agora não me recordo exatamente o nome) estava alta e que era pra ela ter cuidado, mas minha amiga se assustou porque aparentemente não haveria motivos para estar alto, foi quando a médica explicou que antigamente o numero aceito era este, no entanto, atualmente já era um número mais baixo, então passou um determinado medicamento para que a taxa ficasse mais baixa. Mas por que esta taxa tornou-se mais baixa agora?? Provavelmente para as mulheres terem que comprar medicamentos, pois a maioria vai estar acima....E isso acontece com vários outros indicativos que se podem tirar por nossos exames, já que as taxas irão diminuir ou aumentar com base no que eles precisam e como a população tem o costume de acreditar e levar em consideração totalmente a opinião dos médicos, a tendência é que novas doenças continuem surgindo e a industria farmacêutica enriquecendo. :/

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  2. Esta realidade já muito conhecida das pessoas mais instruídas, mas é um daqueles fatos do mundo que é bem pouco refletido, uma armadilha em que muitas pessoas (até as instruídas citadas antes) “caem” sem perceber de tão arraigado e natural que se tornou, afinal as farmácias já são centro de diversões, com lanchonete, venda de cds. Quando não, as drogarias estão no supermercado. As propagandas de medicamentos estão na televisão, nas revistinhas que são distribuídas nesse estabelecimento e que, quem não gosta de folhear? Quanto ao conceito de saúde, diz-se que ele é um estado de completo bem estar, o que, para mim, é algo bastante complexo, geral, pois leva a acreditar que se você não está bem hoje em algum daqueles vários aspectos, você já está completamente mal ou falta algo. Qual o problema de se acordar um pouco triste hoje? Ou essa semana inteira? De repente pode-se não estar 100 % fisicamente, mas pode-se estar 100 % psicologicamente e isso vai sobrepor a falta do outro. Assim, é meio complicado falar que saúde é o completo bem estar físico, mental, social, espiritual, pois parece que sempre vai ser uma missão impossível buscar o equilíbrio entre esses aspectos, uma vez que para uma pessoa é mais importante estar bem espiritualmente que fisicamente. O “doente” não deve imediatamente medicado. Ele pode ser visto como um diferente, mas o problema é que as pessoas não sabem como lidar com essa diferença. Os comportamentos que antes eram normais agora viraram anormais por causa de pretensos estudos médicos e bem sabemos que há cada pesquisa bizarra que é divulgada na mídia, como “uma pesquisa mostrou que dar uma volta no parque de olhos vendados desenvolve a criatividade da pessoa e isso aumenta a inteligência”! Isso demonstra o poder que a mídia tem em influenciar as pessoas. É claro que essas pesquisas não serão divulgadas em revistas especializadas, mas encontra um portas abertas na mídia. Portanto, não é de se estranhar que as pessoas também se sintam doente ou no mínimo sintam medo de estar com alguma doença, tendo programas que passam pela manhã, na maior rede de televisão, que tratam só sobre doenças, saúde, medicina sob o ângulo do senso comum. O pior disso tudo são os médicos, a falta de ética, a forma como se vendem. Onde foram parar os juramentos feitos naquele momento em que oficialmente estão aptos a ingressarem na profissão? Não foi ensinada a ética nas universidades e nas escolas?

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  3. É impressionante como inúmeras farmácias dão uma porcentagem para os médicos que as indicam para seus pacientes. A saúde, é, então, nada mais, nada menos que uma mercadoria. Pelo menos é como ela é vista nesse âmbito. Mas não, saúde não é, e nem pode ser vista ou pensada como mercadoria, porque saúde é necessidade, saúde é essencial para todas as pessoas.
    E sendo essencial, deve ser tratada de modo verdadeiro, e não como uma mera consumidora de todos os remédios e exames que existem no mundo atualmente. Você tá com dor nas costas? Tem um remédio. Tá com insônia? tem um remédio ótimo, tarja preta, tranquilizante. Tá com dificuldade de estudar? Posso indicar um remédio ótimo que ajuda a se concentrar.
    As pessoas estão vivendo cada vez menos, porque elas preferem - e não que elas prefiram realmente, mas acabam por ser induzidas a preferir - viver "anestesiadas", é mais fácil "tampar" a realidade, passando por cima dela, do que encará-la verdadeiramente. Talvez por isso, estes tantos remédios e propagandas consigam tanto êxito.
    Espero que a saúde física, psicológica e social não se resuma a medicamentos, mas a viver verdadeiramente.

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  4. Uma vez fui a um hospital de urgência e emergência particular por causa de uma dor na musculatura da minha perna. Esperei um bom tempo para ser atendida, e quando finalmente fui, o médico foi logo fazendo as perguntas básicas sobre o que eu sentia e o que tinha acontecido, olhou minha perna, mal tocou-a, rabiscou no papel um analgésico e as instruções para tomá-lo, explicou rapidamente e pronto! Não lembro dele ter me dado o mínimo de atenção ou perguntado qualquer outra coisa. A única coisa que lembro é que fiquei super incomodada com a sua frieza. E essa não foi a única situação desconfortável pela qual passei.

    Acho que o maior problema quando se fala a respeito dessa indústria "promotora" de saúde está justamente no fato de que os médicos são, aparentemente, ensinados a nos ver apenas como sintomas e não como pessoas. Prescrevem o que quer que seja que precisamos (ou não) e nos mandam embora. Sem ao menos se importar em conversar um pouco conosco para descobrir verdadeiramente o que precisamos.

    O que precisamos realmente não é de um estoque novinho de pílulas da felicidade, que parecem ser compreendidas como solução rápida para todos os problemas. Tudo o que precisamos é de seres humanos que tenham o mínimo de decência para compreender que somos muito mais do que meros sintomas diante deles, e que conversar um pouco conosco sobre o que possivelmente está acontecendo para causar estes sintomas não irá atrapalhar o seu diagnóstico, mas irá, sim, completá-lo.

    Não precisamos de "Mais médicos"! Precisamos apenas que os que já estão aqui comecem a fazer aquilo que tanto estudaram para fazer, nos dar um atendimento digno e de qualidade, que abranja aquilo que, verdadeiramente, precisamos.

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  5. As estratégias de mercado são um perigo para o bem estar da população, principalmente quando se trata de saúde, o que vemos não é um grupo preocupado com a saúde dos indivíduos, ao contrário, vemos um grupo interessado em promover a indústria farmacêutica, para consequente geração de capital. Nesse meio, ter dinheiro é mais importante que ter saúde (quando se fala do outro).

    É preocupante ver que a cada segundo "nasce" uma nova doença. Hoje em dia há diagnóstico para tudo, se sentes uma dorzinha no dedinho do pé e vais ao médico, logo recebes a prescrição de algum remédio, e o interessante é que as vezes esse remédio que seria para tua melhora, tem mais efeitos colaterais do que promove teu bem estar.

    Certa vez fui a uma clínica, apenas com a garganta inflamada, chegando lá o médico me olhou rápido e sem dizer muita coisa me mandou para uma sala para ficar em observação, nessa sala sob sua orientação, injetaram algo em minha veia além do remédio para a garganta (com a deixa de que eu estava fraca e precisando daquela medicação). Resultado, eu não precisava da medicação (apenas pagaria mais por ela) e então passei mal, minha pressão caiu, não conseguia levantar, e por alguns minutos fiquei com a visão comprometida. E tudo isso por que? simplesmente porque não há compromisso com a saúde, mas sim interesse por o que se vai ganhar com mais consumo de medicamentos e uso dos serviços prestados.

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