segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Direitos de Crianças e Adolescentes também são Direitos Humanos

Acompanhe a matéria, onde a professora Flávia Cristina Silveira Lemos, coordenadora do grupo Transversalizando, fala sobre os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. 

Postado por: www.portal.ufpa.br

O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), aprovado no Brasil em 1990 é considerado uma lei que inaugura, no país, uma nova era de promoção, defesa e garantia de direitos de crianças e adolescentes, na medida em que este segmento do povo é reconhecido como sujeito e não mais podem ser chamados pejorativamente de menores. A Universidade Federal do Pará (UFPA), assim como suas faculdades, consideram os Direitos de Crianças e Adolescentes e os Conselhos Tutelares um assunto de grande relevância, na política. Confira a segunda reportagem da série sobre Direitos Humanos.

Os direitos das crianças e dos adolescentes, no ECA, foram referendados pelos princípios fundamentais da Declaração Universal dos Direitos da Criança, 1959 e da Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989. No ECA, crianças e adolescentes têm direitos à prioridade absoluta no atendimentos e no financiamento das políticas públicas; devendo receber proteção integral. A partir deste momento, a descentralização e participação social se tornam elementos centrais da concretização do exercício da proteção de crianças e adolescentes, sendo que são criados os Conselhos Municipais, Estaduais e o CONANDA, em termos da esfera federal, devendo fiscalizar, deliberar e também serem espaços consultivos e constitutivos das políticas de atendimento de crianças e adolescentes.

Os Conselhos Tutelares passam a funcionar e serem implantados após o ECA porque estão previstos nesta lei e se tornaram importantes instituições não jurisdicionais, administrativos, municipais com a função de receber notificações de violação e de ameaça de violação de direitos de crianças e adolescentes, de encaminhá-las e de requisitar serviços, representar no Ministério Público e fiscalizar a execução das políticas públicas. O Conselho Tutelar se tornou um espaço relevante por ser ágil e por não gerar processos necessariamente, mas sim receber as denúncias de maneira mais dinâmica em um fluxo de encaminhamento e efetividade de defesa e garantia de direitos..


Com base nisso, vários trabalhos e projetos foram criados para tratar desse tema na UFPA, como é o caso do projeto do Grupo Transversalizando, coordenado pela professora Flávia Lemos, da Faculdade de Psicologia, que parte de análises de Foucault, Deleuze, Guattari e Castel para realizar estudos das práticas exercidas em estabelecimentos de concretização de políticas públicas brasileiras, de acordo com os Direitos Humanos voltados para as crianças e os adolescentes, entre eles, os Conselhos Tutelares, além de também estudar as práticas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e os efeitos da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente no plano da produção de subjetividades e das práticas institucionais de cuidados e proteção.

Violações - Há inúmeras formas graves de violação dos direitos das crianças e adolescentes. De acordo com a professora Flávia Lemos, estas violações e as modalidades variadas de violência praticadas por diferentes atores e instituições é uma situação muito grave e complexa de lidar, na realidade brasileira, mesmo após a aprovação do ECA. Depois de 22 anos de promulgação, há que se fazer valer os princípios trazidos por esta lei e efetivá-los em todo o território brasileiro, para todas as crianças e adolescentes, indistintamente, algo ainda distante de nosso contexto e que é motivo de intensa luta de movimentos sociais variados, na atualidade do país e mesmo no plano internacional pelas instituições que realizam o monitoramento de direitos no Brasil.

“Além de garantir em lei os direitos, precisamos lutar e estudar para que os direitos se concretizem na política pública cotidianamente, o que passa por uma política de formação em direitos humanos e de formação continuada em direitos”, ressalta a professora Flávia.

Conselhos Tutelares: proteção - A professora Flávia Lemos, também autora da dissertação Práticas de Conselheiros Tutelares Frente à Violação Doméstica: Proteção e Controle, conta que para os Conselhos Tutelares efetuarem as suas atribuições de maneira efetiva é necessário que haja condições de trabalho adequadas, assim como o controle social das políticas públicas pela sociedade civil e, por fim, a formação de uma rede de atendimento de suporte aos encaminhamentos realizados pelos conselheiros. Para tanto, a definição do orçamento prioritário é algo fundamental e central para que esta política seja implementada e possa cumprir seus objetivos e prerrogativas com rigor e cuidado ético. “O Conselho Tutelar trabalhando sozinho fica fragilizado, mas junto com alguma rede em níveis municipais, estaduais e federal poderá encaminhar melhor as suas funções, de acordo com o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente”, afirma a professora Flávia Lemos.

Psicologia Social, Institucional e Comunitária na Defesa de Direitos - Os direitos humanos estão presentes no Código de Ética da Profissão de Psicólogos, na Constituição de 1988, nas Declarações Internacionais, nas Diretrizes Curriculares para a Formação em Psicologia, no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos o que implica que a profissão, para ter uma atuação ética, deve observar os Direitos Humanos para que possa proteger os direitos por meio de práticas críticas, históricas e que considerem os contextos, especificidades e condição de vida de crianças e adolescentes, no Brasil, sobretudo, com vistas a garantir a produção de saúde coletiva e mental, no que tange a Psicologia e suas possibilidades de colaboração com as políticas públicas.

3 comentários:

  1. Como bem explicitou a professora Flávia Lemos, não basta apenas criar as leis, é preciso conhecê-las, estudá-las e colocá-las em prática na vida cotidiana, sendo que esta incumbência não deve ser apenas dos profissionais dessa área, mas também deveria fazer parte dos conhecimentos da população em geral, pois só assim, poder-se-ia reivindicar, com mais força, políticas públicas voltadas para os direitos das crianças e dos adolescentes.

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  2. É notório que vários preceitos do ECA ainda não foram concretizados, pois ainda não há uma estrutura e nem meios adequados de trabalhos dos Conselhos Tutelares que necessitam de mais investimentos do Poder Público, para que as garantias estabelecidas pelo ECA possar ser realizadas. Neste sentido, é de grande relevância também que haja um controle social das políticas públicas pela sociedade civil, a fim que se possa cobrar e proteger de forma crítica os direitos das crianças e dos adolescentes.

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  3. Muito importante ressaltar o que foi dito em “Além de garantir em lei os direitos, precisamos lutar e estudar para que os direitos se concretizem na política pública cotidianamente, o que passa por uma política de formação em direitos humanos e de formação continuada em direitos”.

    É notório que a lei por si mesmo é só um signo, a implicação social de cada um nessa lei é que faz a diferença!

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