quarta-feira, 12 de setembro de 2012

NOTA LANÇADA PELO GRUPO TRANSVERSALIZANDO SOBRE HOMICÍDIO DE SEIS JOVENS EM ICOARACI

Esta nota foi produzida pelo grupo Transversalizando, no ano de 2011, frente ao homicídio de seis jovens em Icoaraci.

Nota sobre o homicídio de seis jovens em Icoaraci

No dia 21 de Novembro de 2011, seis jovens entre 12 e 17 anos foram assassinados quando estavam conversando em frente à residência de dois deles, no Distrito de Icoaraci, em Belém do Pará. Frente a este acontecimento, nós participantes do Grupo de Estudos e Pesquisa Transversalizando, que através de pesquisas tem problematizado o grave cenário de violação aos direitos de crianças e jovens no Brasil, por meio desta nota, divulgamos nosso posicionamento sobre a questão:
No Brasil, o segmento populacional de faixa etária entre 15 e 24 anos é a que mais tem sofrido com atos de violência letal: 39,8 % das causas de morte da população jovem são atribuídas a homicídios. Esta forma de violência tem ainda como vítimas preferenciais jovens negros e do sexo masculino. Desta forma, analisamos que vem se configurando um quadro de genocídio, no Brasil, da população jovem, pobre e negra.
A imprensa tem divulgado estes acontecimentos com bastante frequência, mas entendemos que, na maioria das vezes, o faz de maneira sensacionalista e despolitizada. Consideramos que o mesmo deve se constituir como um importante analisador político das práticas sociais que historicamente tem se produzido em relação a este segmento
Há alguns séculos no Brasil, tem-se classificado certa parcela da população como perigosa e violenta e em nome de uma suposta proteção da sociedade tem-se legitimado práticas de extermínio contra a mesma. Nesta história brasileira de gestão dos infames, os jovens pobres têm, na atualidade, sido considerados como membros preferenciais desta nova “classe perigosa”, a qual deve ser controlada de perto. A cada novo ato de violência contra jovens, apenas, atualiza-se práticas de racismo.
O acontecimento em Icoaraci não pode ser desvinculado de uma realidade perversa, que empurra os jovens pobres brasileiros se não, no pior dos casos para o extermínio, mas para o trabalho mal remunerado ou para as diversas formas possíveis de encarceramento. 
Questionamos a ausência de políticas efetivas para reversão deste cenário. Questionamos a falta de respeito aos direitos constitucionalmente garantidos, seja na Constituição Federal, seja no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Não devemos tolerar mais apatia social que nos leva a encarar a ignorar estes atos de violência ou, no pior dos casos, considera-los como natural!



5 comentários:

  1. Esse é o problema! A população acaba achando esse tipo de coisa natural, e então o poder público, ao invés de promover políticas públicas, prefere penalizar as crianças e adolescentes, sem ao menos perceber que o que se precisa realmente é um olhar mais profundo nessa questão social tão urgente.

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  2. Foi abominável este fato! E ainda insistem em dizer que o Brasil é o país da impunidade. Só se for para aqueles poucos de colarinho branco, porque para a maioria da população o tratamento é à bala mesmo. O País da punição seletiva, assim que deveria ser visto. Assumindo e legitimando os contornos da biopolítica, quando a partir da criação da imagem do inimigo - categoria que tem raça e classe social bem definidas construídas historicamente - o sujeito perde então a qualidade de pessoa e, consequentemente, deixa de ser portadora de direitos, o que faz com que seja permitido que o deixe morrer, ou, neste caso lastimável, que o faça matar. Esses sim podem ser mortos, pois que não farão falta à esta sociedade. Em nossas práticas podemos reproduzir este sistema altamente destrutivo, e creio que esta deveria ser uma das principais preocupações da Psicologia e demais áreas, para que não naturalizemos o fascismo, para que os racismos não tenham vez!

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  3. Naturalizar esse tipo de situação é muito problemático. Não é possível desvincular as crianças e adolescentes de uma realidade social que os atravessa e esse contexto é muita das vezes ignorado.
    Esse tipo de prática racista só terá fim, na melhor das hipóteses com uma mudança radical nos valores e nas ideologias sociais, já que, na maioria das vezes essas práticas são "incentivadas" de forma sutil por programas sensacionalistas como Metendo Bronca e Barra Pesada...e muitos outros de péssima qualidade cultural. A criação dos inimigos é um fato e a dissolução dessas categorizações pejorativas só se dará com muito diálogo crítico da sociedade.

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  4. Muito bom o Tranversalizando expor suas opiniões sobre fatos cotidianos de tamanha violência e que, por terem se tornado extremamente “cotidianos”, não resultam em nenhuma reação da sociedade e do Poder Público. O que consigo visualizar é que a criação de “inimigos” só tem a função de mascarar os verdadeiros problemas da sociedade. Assim, ao invés de serem fornecidos os serviços públicos mais necessários a formação de um ser humano (educação, políticas públicas de saúde e lazer, etc.), é oferecida somente a política de segurança pública (bastante falha, diga-se de passagem), fundamentada no uso da força, para combater aqueles que são considerados “lixo social”. O que não é visto, e muito menos dito, pelas empresas que comercializam a informação, é que os jovens alvos de tais políticas de segurança, são antes produto da falta de assistência estatal do que verdadeiros “perigos” a serem combatidos.

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  5. Fato revoltante!Se configura em uma "política" de extermínio que se naturalizou, inserida em um contexto de construção de inimigos convenientemente constituídos por um Estado que não se preocupa com políticas públicas que possam garantir uma sobrevivência digna para a grande parcela pobre da nossa sociedade.Infelizmente, sob a égide do discursos da segurança e da manutenção da ordem tais ações são legitimadas e não são questionadas como deveriam ser.Tal fato se configura em verdadeiro racismo de Estado, fato este, alimentado cotidianamente pela grande mídia que não demonstra as causas de violência e criminalidade,mas somente as suas consequências, marginalizando principalmente jovens pobres que sofrem com o sistema de punição do nosso país.

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