domingo, 19 de agosto de 2012

CFP lamenta morte de criança em conflito de jagunços e indígenas Kaiowá-guarani no MS e repudia omissão do governo


A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia acompanha, com grande perplexidade, expectativa e dor, a situação dos índios guarani-kaiowá, que lutam pela ocupação de suas terras no município de Paranhos, a 477 km de Campo Grande (MS).
Segundo informações obtidas até agora pela CNDH, um confronto armado ocorrido na madrugada da última sexta-feira (10), na área conhecida como Arroio Coral, resultou na morte de uma criança de apenas nove meses de idade. Ainda não foi divulgado o resultado do laudo oficial sobre a causa da morte que vai esclarecer se a criança morreu devido a uma queda ou se atingida por arma de fogo.
Além disso, de acordo com testemunhas, um índio de aproximadamente 50 anos, está desaparecido desde então. A tensão é grande na região e, os índios reclamam da falta de segurança na área e afirmam que o medo de novo ataque é constante.
Essa situação de insegurança e medo é recorrente na região o que indica o quanto é preocupante a omissão do poder público em relação a estes conflitos que provocam danos  à saúde e à vida dos índios, principalmente das crianças indígenas.
Com o objetivo de produzir relatórios e vídeos que documentem a situação de vulnerabilidade, conflitos, mortes e perseguição desse grupo de habitantes, o Conselho Federal de Psicologia esteve presente, por meio de sua Comissão Nacional de Direitos Humanos, em janeiro último, à missão de Direitos Humanos ao grupo Kaiowá-Guarani,  da família Tupi Guarani, localizados no MS, entre os rios Ápa e Dourados.
De acordo com Pedro Paulo Bicalho, integrante da missão e coordenador da Comissão de Direitos Humanos do CFP que durante 12 dias interagiu com os Kaiowá-Guarani, a pressão psicológica é uma constante na vida desses indígenas.  Também constatou que estes indígenas continuam expostos a atos de violência de grupos armados e de omissão do Estado para práticas de extermínio.  Tais práticas criminosas englobam pelo menos 14 crimes, como homicídio, violação da dignidade da pessoa humana, suicídio simulado, ocultação de cadáver, estupro, infanticídio, entre outros. Além disso, ressaltou a desnutrição que as comunidades vivem todos os dias por falta de alimentação. Chama atenção também, na região, a presença dos chamados “jagunços”, forças de segurança privadas das fazendas, que têm inclusive autorização para porte de armas.
A Comissão de Direitos Humanos do CFP entende que o Estado brasileiro possui uma grande dívida com aquele povo, que possui mais de 100 (cem) territórios tradicionais ou “tekoha” invadidos por fazendeiros, latifundiários, grileiros, criadores de gado ou empresários do agro-negócio. Muitas comunidades vivem na beira de estradas, expostas a toda sorte de violências, da falta de terra para plantar aos atropelamentos e agressões físicas, frutos do preconceito que a sociedade local ainda possui contra os povos indígenas. Vale lembrar que só no ano de 2007,  de 22 assassinatos de índios no Brasil, 18 foram no Mato Grosso do Sul.
Na raiz de tudo isso está a omissão do Estado brasileiro, dos governos federal e estadual, em implementar com a urgência necessária a demarcação de todos os territórios indígenas no Mato Grosso do Sul e encaminhar a construção de políticas  indigenistas, em saúde, educação, produção agrícola e auto-sustentação, condizentes com as diferentes culturas e com participação plena das comunidades indígenas.
Enquanto estes processos, urgentes e inadiáveis, não forem implementados, a sociedade brasileira e a comunidade internacional continuarão a assistir estarrecidas à dramática situação vivida pela comunidade indígena naquele estado, cujo indicador mais terrível tem sido o crescente número de  mortes de crianças e jovens indígenas do povo Kaiowá-Guarani.
Apoiam essa nota as seguintes entidades:
ABECIPSI – Associação Brasileira de Editores Científicos de Psicologia
ABEP – Associação Brasileira de Ensino de Psicologia
ABOP – Associação Brasileira de Orientação Profissional 
ABPD – Associação Brasileira de Psicologia do Desenvolvimento 
ABPJ – Associação Brasileira de Psicologia Jurídica
ABPP – Associação Brasileira de Psicologia Política
ABPSA – Associação Brasileira de Psicologia da Saúde 
ABRAP – Associação Brasileira de Psicoterapia
ABRAPESP – Associação Brasileira de Psicologia do Esporte
ABRANEP – Associação Brasileira de Neuropsicologia
ABRAPEE – Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional
ABRAPSO – Associação Brasileira de Psicologia Social
ANPEPP – Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia 
ASBRo – Associação Brasileira de Rorschach e Métodos Projetivos
CONEP – Coordenação Nacional dos Estudantes de Psicologia
FENAPSI – Federação Nacional dos Psicólogos 
FLAAB – Federação Latino Americana de Análise Bioenergética
IBAP – Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica
SBPH – Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar
SBPOT – Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho
SOBRAPA – Sociedade Brasileira de Psicologia e Acupuntura

6 comentários:

  1. Infelizmente, há um descaso muito grande com a população indígena em nosso país. Enquanto houver essa briga por terras, muitas vidas serão ceifadas, algo que seria totalmente evitado se o governo e a sociedade olhassem com mais respeito os índios. Muito bom que a Comissão de Direitos Humanos do CFP ajude a amenizar a pressão psicológica pela qual eles passam. Estão de parabéns!

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  2. O que ocorre com os índios guarani-kaiowá é o reflexo histórico do modelo colonizador implantado em nosso país, forjada por um discurso civilizador e que desencadeou a dizimação de diversas populações nativas.Tal fato ainda repercute na atual realidade do Brasil, onde tribos que lutam pela sua sobrevivência, no caso a tribo guarani-kaiowá, ainda são vítimas de violações físicas, morais e psicológicas.É perceptível que as garantias constitucionais dirigidas aos povos indíginas não tem eficácia, pois ao Poder Público, infelizmente, é mais conveniente a sua omissão, já que tal postura atende os seus interesses políticos e econômicos. Somado a isto, vislumbramos em nossa sociedade a passividade em relação a esse tipo de caso, pois o que se pode verificar é que as políticas públicas (as que "existem"!) voltadas para os índios são vislumbradas como favores que nós os "civilizados" prestamos a eles,como sinal da nossa "generosidade".É desesperador observar que essas atrocidades cometidas contra a tribo guarani-kaiowá, nos faz atentar para o fato de que os índios não são vistos como sujeitos de direitos, pelo contrário, muitos acreditam que eles podem ser eliminados a qualquer tempo para atender lógica de um sistema.
    A sociedade tem que se posicionar e se articular para organizar formas de enfrentamento desse tipo de realidade, a exemplo do acompanhamento do Conselho Federal de Psicologia no caso, para que o nosso silêncio não seja interpretado como um consentimento para essas atrocidades.

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  3. Estranhamente, em situações que envolvem os direitos das minorias pouco é noticiado na mídia. Quando movimentos se reunem e tomam propriedades desses mesmos fazendeiros e latifundiários, nossas pautas televisivas ficam recheadas de maniqueísmos implícitos nas notícias. Enquanto essa briga não termina o CFP deve fazer sua parte.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Interessante observar que a situação de descaso com os índios guarani-kaiowá por parte do Estado brasileiro não é um evento isolado, mas sim uma prática autoritária, reiterada durante séculos, independente do grupo político que esteja no comando dos Poderes constituídos da República. Não sendo vistos como sujeitos de direitos (quanto mais como seres humanos...), os guarani-kaiowá são alvos de toda sorte de violências; violências estas que encontram na omissão do Estado a sua fonte de legitimação. Entendo que é essencial a manifestação da sociedade civil para romper com este ciclo de silêncio, descaso e omissão quanto aos indígenas. Desta maneira, a posição do Conselho Federal de Psicologia deve ser extremamente elogiada por não se calar frente as injustiças que ocorrem em nosso país.

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  6. É preciso mais respeito por parte do governo em relação aos índios, creio que a palavra certa é esta respeito! Pois só assim o Estado irá preocupar-se com essas vidas, e a manutenção de suas culturas e identidades. É de grande satisfação social que o CFP preocupe-se e posicione-se no que se refere a estas questões, o que contribui para esta causa.

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